Título: Bolívia fala em vender gás aos EUA
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/05/2006, Economia & Negócios, p. B3

Dois dias após anunciadas medidas para a conquista da auto-suficiência na produção brasileira de gás, a estatal boliviana YPFB anunciou parcerias para encontrar novos destinos para as gigantescas reservas do país. Dentre os empreendimentos em estudo, que somam mais de US$ 6 bilhões em investimentos, está a retomada do projeto de exportação de gás para os Estados Unidos, pivô da chamada guerra do gás de 2003, que deixou 67 mortos e culminou com a renúncia do presidente Gonzalo Sánchez de Lozada.

O primeiro convênio será assinado esta semana com a americana Predator Technologies e prevê a exploração de novas jazidas de gás a ser industrializado na Bolívia. "Uma das principais alternativas é transformar o gás em matéria petroquímica e combustíveis líquidos", disse o vice-presidente de Operações da YPFB, Nelson Cabrera.

Também anunciou estudos para a construção de três unidades gas-to-liquids (GTL) para produzir diesel a partir do gás natural, em parceria com a empresa local GTL-Bolívia. Orçadas em US$ 1 bilhão, as fábricas serão instaladas em Cochabamba, Santa Cruz e Tarija. "Vamos abastecer o mercado interno e exportar o excedente", explicou Cabrera. O país importa cerca de 30% do diesel que consome, por falta de capacidade em seu parque de refino.

Mas o projeto mais ambicioso é a retomada dos planos de exportação de gás para os EUA, com investimentos previstos em US$ 5 bilhões, incluindo a unidade de liquefação no Chile ou Peru e gasodutos, num terceiro convênio, com a americana World Business.

Investimento semelhante já foi estudado pelas multinacionais BP, BG e Repsol. Na época, o litoral chileno foi escolhido como ponto de embarque do gás para a América do Norte, o que gerou enorme resistência na população boliviana, iniciando a guerra do gás. Chile e Bolívia têm relações estremecidas desde que a última perdeu o acesso ao mar para o país vizinho.

Para Cabrera, a situação agora é diferente pois a YPFB vai controlar o empreendimento. Disse que ainda não foi definido o ponto de embarque do gás e reforçou que a YPFB não cogita interromper as exportações de gás para o Brasil. O combustível que será levado aos EUA será produzido em campos ainda inativos, já que quase toda a produção local está comprometida com a Petrobrás.

O quarto convênio será assinado com a americana Shaw Group, que vai investir na exploração de novas reservas.

Segundo Cabrera, a YPFB mantém os planos de ampliar a capacidade de transporte de gás para a fronteira brasileira, mesmo que o Brasil não aumente as importações.

Na sexta-feira, as petroleiras estatais da Bolívia, YPFB, e da Venezuela, PDVSA, assinam acordo para a construção de uma unidade de produção de gás liquefeito de petróleo (GLP), o gás de cozinha, a partir do gás natural extraído em campos bolivianos. a no projeto. A parceria faz parte de uma série de convênios que serão assinados no fim da semana, em visita do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, à Bolívia. "Eles vão fazer todos os investimentos e nós vamos pagar com os produtos", destacou o presidente da YPFB, Jorge Alvarado.