Título: Governo vê Brasil mais resistente à turbulência
Autor: Fabio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/05/2006, Economia & Negócios, p. B3
A turbulência nos mercados financeiros brasileiro e mundial ganhou força na semana passada. O dólar subiu, a bolsa caiu e dúvidas sobre o futuro do mundo e do Brasil entraram na pauta. De acordo com fontes do governo e alguns analistas, embora existam importantes dúvidas sobre o futuro da economia norte-americana e, em conseqüência, da economia mundial, o cenário mais provável é que esse sobe-desce nos mercados continue no curto prazo, mas se estabilize um pouco mais à frente, sem que o mundo entre em crise.
No entanto, se um cenário pior ocorrer, a avaliação geral é que o Brasil está bem mais preparado para enfrentar uma crise externa hoje e os impactos serão muito menores do que em períodos anteriores.
Na equipe econômica do governo, a avaliação majoritária é de que o ciclo de aperto monetário dos EUA está próximo do fim, com o Fed - o banco central norte-americano - elevando suas taxas de juros no máximo para 5,25% ou 5,5%. "Isso vai provocar algum ajuste de carteiras de investimentos, mas não vai levar a uma crise porque nossa situação em termos de contas externas é confortável", disse uma fonte.
"Enquanto não estiver claro até onde vai o juro americano, vai prevalecer a volatilidade. A incerteza é ruim, mas os fundamentos da economia estão tranqüilos, reduzindo os riscos de uma crise", disse outra fonte do governo. "O Brasil deve se sair bem dessa", completou.
Embora espere que essas incertezas se dissipem em algum momento, o governo não descarta um cenário de aperto monetário mais forte, o que reduziria o ritmo de crescimento da economia mundial. Isso, sim, poderia causar uma crise. Nessa situação, o desempenho das exportações do Brasil poderia ser afetado, com danos à economia. De qualquer forma, o governo avalia que o crescimento das reservas internacionais, a redução da dívida externa e da necessidade de financiamento no exterior amorteceriam o impacto de uma eventual crise vinda de fora.
Um analista internacional ouvido pelo Estado também avalia que a situação mais provável é que a trajetória de alta nas taxas de juros básicos norte-americanos esteja próxima do fim, com a taxa atingindo no máximo 5,25% ao ano. "Os EUA estão em um processo de elevação dos juros para um nível de equilíbrio, que permita ao país continuar crescendo sem pressões inflacionárias", afirmou. Nesse sentido, a projeção é de um cenário sem crise para o mundo neste ano, apesar das incertezas no mercado.
Esse analista pondera que, sob a ótica do Brasil, o dólar pode subir nesse processo, fruto da redução no diferencial entre a taxa de juros lá fora e a taxa básica brasileira, a Selic, que está em trajetória de queda.
O professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Antônio Corrêa de Lacerda, considera que o movimento de ajuste na taxa de juros americana não vai provocar uma mudança drástica no fluxo de capitais nem uma crise no Brasil. "Estamos numa situação econômica muito melhor hoje."