Título: Peritos encontram indícios de execução em corpos de vítimas
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/05/2006, Metrópole, p. C1

As lesões dos corpos de algumas vítimas da onda de violência deflagrada pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) são compatíveis com atos de execução. A opinião é dos médicos João Ladislau Rosa e Adriane Guilhermino, representantes do Conselho Regional de Medicina (CRM), que viram uma série de cadáveres ontem, no Instituto Médico-Legal (IML) Central, na zona oeste, com tiros na cabeça e na nuca.

O defensor público Pedro Giberti, que acompanha o caso, viu esquemas gráficos e rascunhos de laudos e chegou à mesma conclusão. "Entre os apontamentos dos peritos do IML, verifiquei lesões de defesa nas mãos, tiros na cabeça que atravessaram o cérebro e lesões que denotam emprego de arma de repetição, dada a proximidade dos orifícios de entrada das balas", explicou o defensor, que trabalhou 13 anos com homicídios no Tribunal do Júri.

Todos ressaltaram, no entanto, que só será possível dizer se houve mesmo execução quando forem confrontados os laudos e os boletins de ocorrência sobre as mortes, o que ainda deve levar alguns dias.

Ladislau afirmou que os procedimentos de recepção e identificação dos cadáveres está sendo feito dentro das normas legais. "Ao que parece, ninguém está sendo enterrado sem ser identificado", disse o médico. Os corpos estão sendo fotografados e as impressões digitais, enviadas ao Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt (IIRGD) para confronto. Se for o caso, será feita identificação pela arcada dentária ou por exames de DNA.

De acordo com Ladislau, que faz a vistoria por solicitação da Defensoria Pública do Estado, os peritos do CRM tiveram acesso aos laudos dos 273 corpos que deram entrada no IML Central desde o dia 12 até as 12 horas de anteontem. Desse total, segundo o médico, 95 morreram em conseqüência de disparos de arma de fogo, o que os torna o alvo de maior atenção por parte do CRM e do Ministério Público Federal (MPF), que investiga a ação da polícia nos casos. Os demais morreram em acidentes de trânsito, hospitais e prontos-socorros. Ontem, deram entrada no IML mais 11 corpos, um com marcas de tiro.

MOVIMENTO

Segundo o representante do CRM, o movimento aumentou no IML Central nos últimos dias, mas não somente por conta dos confrontos da polícia com supostos bandidos. É que as unidades do IML Leste, em Artur Alvim, e Sul, no Jardim São Luís, passam por reforma. Assim, os corpos são mandados, em sua maioria, para o IML Central. Outros vão para o IML Oeste, na Vila Leopoldina. "Vimos cadáveres fora da geladeira, a chamada câmara fria, mas não eram em grande número. Todas as geladeiras estão lotadas, mas há uma preocupação dos funcionários em apressar o atendimento", disse Ladislau.

Hoje, técnicos do CRM voltarão ao IML para continuar a acompanhar os procedimentos e verificar laudos. Depois, farão um relatório para a defensoria e o MPF. Ontem, havia muitos parentes de mortos na frente do IML, mas não das vítimas dos confrontos. O Ministério Público Estadual (MPE) deve pedir hoje aos comandos das Polícias Militar e Civil cópias dos boletins de ocorrência dos casos e dos laudos para investigar eventual prática de execução.