Título: Ouvidoria apura ação de grupos de extermínio em nove mortes
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/05/2006, Metrópole, p. C1

Na guerra deflagrada em São Paulo pela onda de ataques do crime organizado iniciada no dia 12, os assassinatos de autoria desconhecida - principalmente aqueles cujas vítimas não tinham passagem pela polícia - tornaram-se a principal preocupação do ouvidor da Polícia, Antônio Funari Filho."É preciso inibir o aparecimento de novos grupos de extermínio." O ouvidor está investigando nove mortes, ocorridas em quatro episódios na semana passada. "O que me preocupa muito são os relatos de que os assassinos usavam máscaras ninjas. É difícil saber o que é a guerra do PCC e o que são mortes do cotidiano, mas esse tipo de ação é de grupos de extermínio. E há grande suspeita de participação de policiais."

Segundo o ouvidor, as denúncias de execuções atribuídas a grupos de extermínio, em queda desde os anos 80, voltaram a aparecer nos últimos dias. A contagem oficial da Secretaria de Segurança sobre mortes classificadas como "suspeitas" inclui apenas os casos de confronto, em que os policiais reconhecem que as vítimas foram atingidas pelas armas da polícia, em tiroteio.

"Nos casos em que os policiais assumem as mortes, menos mal. A verdade aparecerá. Mais dia, menos dia, vamos saber se houve abuso ou não. Não tenho motivos para achar que o IML (Instituto Médico-Legal) vá errar nos laudos. Além disso, as fotos (dos cadáveres) não mentem. O problema são os homicídios de autor desconhecido."

O auge da ação dos grupos de extermínio, formados na década de 1950, principalmente por policiais, ocorreu nos anos 70, quando, mais organizados e violentos, se transformaram nos temidos esquadrões da morte. "O esquadrão da morte caçava assaltantes, traficantes e, mais tarde, prestou serviços à ditadura. Agora, o que me preocupa é a possibilidade de novos grupos de extermínio, sem a organização do esquadrão da morte, mas com a mesma maneira de agir. Estamos em um regime democrático e é claro que não terão respaldo das autoridades", disse Funari, advogado preso e condenado em 1968, pela atuação no combate ao autoritarismo do regime militar.

Entre os casos investigados está a chacina de cinco jovens ocorrida em São Mateus, zona leste,assassinados poucas horas depois de o crime organizado ter executado o soldado José Eduardo de Souza, no domingo, dia 14. Testemunhas afirmaram que os assassinos forjaram uma revista policial e, em seguida, dispararam.

Outros casos são as mortes do motorista Ricardo Flauzino, de 22 anos, no Jaçanã, zona norte, e do cabeleireiro Lindomar da Silva, de 29, em São Mateus. Nos dois, houve relatos de que os assassinos usavam máscaras ninja, disse Funari. As circunstâncias foram semelhantes em dois assassinatos, em Guarulhos, que o ouvidor não detalhou. "Não encontramos passagens pela polícia de nenhuma das vítimas."