Título: Parentes visitam presos, com revista rigorosa
Autor: Mônica Manir
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/05/2006, Metrópole, p. C7

Parentes puderam visitar detentos em pelo menos dois Centros de Detenção Provisória (CDP) da capital. As famílias contaram que o primeiro fim de semana de visita após a megarrebelião teve revistas mais rigorosas. "Elas (agentes) mexeram no meu cabelo e até pediram para eu abrir a boca, o que nunca aconteceu", disse a inspetora de alunos Maria Cristina França Silva, de 41 anos, que todo domingo visita o filho, de 20. Acusado de roubo, ele está há oito meses no CDP da Chácara Belém, zona leste. Na unidade, a fila para as visitas de ontem começou no dia anterior. Pelo menos 50 mulheres já aguardavam sábado à tarde na porta do CDP. Os portões foram abertos às 8 horas de domingo e a visita acabou às 16 horas.

Embora tenha registrado motim na semana passada, o CDP do Belém teve visitas normalmente. O governo havia divulgado que elas seriam suspensas onde houve rebeliões.

Os parentes afirmaram que o assunto ontem, como previsível, era a onda de rebeliões e ataques em São Paulo. "Não se falou de outra coisa. Eles estavam sabendo de tudo, porque acompanharam pela TV e rádio", contou Expedita Judite da Silva, de 27 anos. O complexo do Belém abriga hoje quase 3 mil presos - mas tem capacidade para metade disso.

No CDP de Pinheiros, na zona oeste, a visita também foi liberada, apesar do motim no fim de semana passado. Mas, segundo funcionários, o número de visitantes foi abaixo do normal. "Sempre tem fila para entrar, mas hoje não tinha ninguém. Entrei direto", contou a catadora de papelão Sueli Arruda, 45.

"Lá dentro estava tranqüilo. De tão calmo, estava com cara de rebelião", brincou a esteticista Judite Souza de Oliveira, de 54 anos, que tem um filho, de 28 anos, preso há 11 meses. "É normal ter batucada, mas hoje (ontem) estava um silêncio só."

A direção dos dois CDPs e funcionários da Secretaria de Administração Penitenciária não foram encontrados para comentar a liberação das visitas.

Na Cadeia Pública de Botucatu, aconteceu ontem o primeiro motim do Estado após a série de rebeliões que parou 73 presídios, encerrada há uma semana. Por volta das 11h30, detentos fizeram um carcereiro refém. Eles reivindicavam a transferência de dez presos . Após negociação, o diretor da unidade, Luís Marcelo Perpétuo Sampaio , decidiu atender ao pedido e a rebelião terminou, às 17 horas. Com 60 vagas, a cadeia abriga 222 presos. O governo informou que não houve feridos e o episódio não tem relação com o Primeiro Comando da Capital, que orquestrou a onda de violência na semana passada.