Título: No AM, bichos são maltratados
Autor: Herton Escobar
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/05/2006, Vida&, p. A14

FERIDA - Macaco-prego devolvidoOs urros de dor da jaguatirica Muna, de 4 anos, chamaram a atenção de um vizinho que entrou em contato com o Ibama. O animal era criado desde filhote como um gatinho e só bebia leite. Já adulto, magro e faminto, começou a comer as galinhas do quintal. Por isso, apanhava de vassouradas. Há cerca de um mês, Muna foi resgatada com uma grande queimadura nas costas, provocada por água fervente.

No Amazonas, os maus-tratos a animais silvestres são comuns, atendidos diariamente pelo Ibama. "As pessoas levam para casa macacos, araras, onças, mas o animal cresce muito, faz sujeira e o dono começa a maltratar ou abandona", conta a veterinária Branca Tressoldi, do Ibama.

Em 2005, dos 833 resgatados, 494 foram apreendidos por maus tratos, 182, entregues espontaneamente e 157, levados ao Ibama ou resgatados por terem aparecido em casas próximas à floresta. "Desses casos de entrega espontânea, pelo menos 80% são de animais maltratados, que o dono não tem a menor idéia que está maltratando, por ignorância", diz a veterinária.

No ano passado, um macaco-prego foi resgatado pelo Ibama depois que o dono ligou "porque ele estava sempre doente", tinha uma ferida que não cicatrizava na barriga. "A corda amarrada pela cintura estava tão apertada que tinha cortado sua barriga", conta Branca. "Há papagaios e araras com as penas caindo, anêmicos porque os donos dão pão, manteiga e café com leite."

"Aqui é cultural o caboclo pegar o animal da mata e, por fim, terminar maltratando ou matando quando o bicho mostra os instintos", diz a diretora da única ONG de proteção animal do Amazonas, o Grupo de Proteção Animal (GPA), associado à organização World Society for the Protection of Animals (WSPA).