Título: O próximo passo dos imigrantes
Autor: Teresa Watanabe, Nicole Gaouette
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/05/2006, Internacional, p. A13

Depois da megamanifestação, líderes do movimento precisam convencer público americano

Eles se reuniram, marcharam, boicotaram. E agora? No rastro do 'dia sem imigrantes' de segunda-feira nos EUA, a questão urgente diante dos imigrantes e seus defensores é como traduzir a paixão das ruas em ganhos políticos duradouros.

Organizações pró-direitos dos imigrantes dizem que, nos próximos meses, tentarão fazer diferença nas urnas por meio do registro de eleitores, ajudando os imigrantes legais a se tornarem cidadãos e votar nas eleições primárias de junho. "Isto é só o começo", disse Hilda Delgado, da Seção 1877 da União Internacional dos Trabalhadores em Serviços, em Los Angeles. "Agora precisamos redirecionar toda a energia e toda a força e começar a registrar eleitores para enviar uma clara mensagem (pela reforma da imigração) ao Senado e à Câmara." Os organizadores têm um trabalho difícil à frente. Segundo o Centro Hispânico Pew, só 39% dos 41 milhões de latinos do país têm direito a voto, para 76% dos brancos e 65% dos negros. E menos da metade dos 16 milhões de latinos com direito a voto participou da eleição de 2004.

Robert Suro, diretor do Centro Pew, afirmou que os latinos agora precisam convencer o público mais amplo de que a lei que expande os programas de trabalhadores convidados e dá aos imigrantes indocumentados uma chance de ganhar status legal seria boa para a nação.

Mas essa mensagem será combatida pelos partidários do controle da imigração. Segundo estes, os últimos dois meses de manifestações atraíram recrutas para a causa da repressão à imigração ilegal.

Desde 25 de março, quando a passeata de Los Angeles deixou o país impressionado ao atrair 500 mil pessoas para as ruas, o grupo Minuteman, baseado em Phoenix, que monitora a fronteira com o México, viu aumentar o número de voluntários, o levantamento de fundos e as visitas a seu website, disse a porta-voz Connie Hair.

Segundo ela, 400 voluntários ingressaram no grupo na semana seguinte à primeira manifestação em Los Angeles, enquanto a média semanal normal é 135. Um apelo via internet por ajuda para a construção de cercas em terras particulares ao longo da fronteira com o México levantou US$ 150 mil em uma semana. O tráfego no site do grupo quadruplicou, chegando a 36 mil visitas por dia, afirmou Hair.

As manifestações "chamam a atenção do povo americano para pessoas nas ruas com bandeiras mexicanas que podem não ser gratas por seus benefícios subsidiados pelo contribuinte e passam na frente das que fazem as coisas legalmente", disse ela. "Uma indignação silenciosa se acumula." Em Washington, onde o Senado pode retomar na semana que vem o debate sobre o projeto de lei da imigração, alguns parlamentares disseram que as manifestações mantêm o tema em pauta.

Mas a maioria dos congressistas advertiu que os protestos podem polarizar a opinião pública, dificultar a negociação da espinhosa questão no Congresso e criar uma onda de reação contra os imigrantes ilegais. "Quanto mais as emoções se inflamarem em qualquer lado do debate, mais difícil será aprovar uma legislação razoável", disse a deputada republicana Mary Bono. "Isso está polarizando profundamente as pessoas e a maioria de meus eleitores está irritada (com o boicote)".

Bono votou no ano passado a favor do controverso projeto da Câmara que desencadeou os protestos ao prever a criminalização dos imigrantes ilegais e a construção de uma cerca de 1.100 quilômetros ao longo da fronteira com o México.

Em contraste, a Comissão Judicial do Senado aprovou em março um projeto considerado mais favorável aos imigrantes. Ele inclui um programa de trabalhadores convidados ampliado e uma chance para que os imigrantes indocumentados que vivem hoje nos EUA ganhem status legal pagando uma multa e aprendendo inglês, entre outras obrigações.

Na segunda-feira, republicanos conservadores que apoiaram a lei da Câmara desmentiram sugestões de que as manifestações os levariam a moderar sua posição e de que os parlamentares estariam arrependidos por aprovar um projeto que gerou tanta oposição. "Os oponentes da lei têm sido demagógicos e enganam o povo. Esta é sua estratégia", disse Jeff Lungren, porta-voz do principal autor do projeto da Câmara, o deputado republicano F. James Sensenbrenner Jr.. Senadores que apóiam uma reforma mais ampla da imigração dizem que os protestos vão dificultar o trabalho deles.