Título: "A Al-Qaeda no Iraque só responde por 10% dos ataques"
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Fonte: O Estado de São Paulo, 03/05/2006, Internacional, p. A12

Na véspera de o Parlamento iraquiano se reunir para o primeiro dia de trabalhos, quatro meses após as eleições legislativas, o novo presidente da Casa, o árabe sunita Mahmud Dawud Mashhadani, disse ontem num pronunciamento na TV iraquiana que o fim da violência é sua prioridade e também a do novo governo. Mashhadani foi médico das Forças Armadas no governo de Saddam Hussein e acabou preso por ter se filiado a grupos islâmicos que contestavam o regime. Ao ser eleito no dia 22 presidente do Parlamento, como membro do principal grupo sunita, a Frente do Acordo Iraquiano, ele contou, bem-humorado, que a Justiça de Saddam o condenou à morte, acusando-o de se opor à guerra contra o Irã nos anos 80. Mashhadani disse ter escapado da morte subornando o chefe da Corte Revolucionária, que reduziu sua pena para 15 anos de prisão. Ao falar ontem ao 'Estado', por telefone, de Bagdá, Mashhadani se mostrou bastante otimista sobre o futuro governo, que deve ser submetido à aprovação do Parlamento na semana que vem.

Quais serão as prioridades do Parlamento?

Amanhã (hoje) vamos escolher os membros da comissão que comandará os trabalhos. Depois o Parlamento estará aberto para discutir os principais problemas. Estarão em pauta a revisão da Constituição, a violência, a reconstrução do país, entre outros temas urgentes. O importante é que todos sejam ouvidos. Temos de ouvir o povo iraquiano.

O maior bloco sunita no Parlamento, a Frente do Acordo Iraquiano, contrária à autonomia às regiões dos curdos e xiitas, anunciou ontem que quer a liderança do comitê encarregado de revisar a Constituição (a qual prevê a autonomia). Já conversou sobre isso com os políticos xiitas e curdos?

Faço parte da frente, mas como agora sou presidente do Parlamento, meu objetivo é ser neutro para propiciar o diálogo entre todas as partes. Não vou pressionar para impor minha opinião. O que está certo é que a Constituição aprovada no referendo de outubro tem uma cláusula estipulando que seja criado um comitê para estudar emendas. E a questão da autonomia é um dos itens em debate.

Há informações de que o presidente iraquiano, Jalal Talabani, está negociando a deposição das armas com os rebeldes. Como estão essas negociações?

O presidente não me informou sobre isso. Eu considero esse o principal problema a ser resolvido agora. É muito complexo porque há muitos grupos, com diferentes ideologias. Posso citar alguns: o Ansar al-Sunna, Exército Islâmico, Al-Qaeda no Iraque, Batalhões Mujaheddin, Ansar al-Islam. São muitos. Para tratar desse assunto será criado um comitê integrado pelo primeiro-ministro, os ministros da Defesa e do Interior, o chefe da Inteligência, entre outros. Confio em que o governo se manterá unido e conseguirá uma solução política.

Os EUA responsabilizam a Al-Qaeda pelo maior número de atentados e também pelos piores no Iraque. Quais são os grupos mais ativos?

A Al-Qaeda só responde por uns 10%. Os outros são realizados por grupos de resistência os mais variados, incluindo os formados por ex-soldados e ex-integrantes da segurança do governo de Saddam Hussein.Mahmud Dawood Mashhadani, presidente do Parlamento do Iraque