Título: Garotinho diz que fará jejum "até a morte" e é satirizado na internet
Autor: Alexandre Rodrigues, Fabiana Cimieri, Rodrigo Mora
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/05/2006, Nacional, p. A6

Pré-candidato do PMDB deu entrevista só a correspondentes estrangeiros

Em entrevista ontem a correspondentes estrangeiros, da qual brasileiros não puderam participar, o pré-candidato do PMDB à Presidência Anthony Garotinho declarou que irá "até a morte" em sua greve de fome, caso o jornal O Globo e a revista Veja não lhe concedam espaço proporcional ao que usaram para publicar denúncias contra o ex-governador. Ele também disse ter documentos provando que são falsas as acusações de que sua campanha recebeu doações irregulares, mas não os exibiu.

Garotinho afirmou que sua pré-candidatura é alvo de "conspiração" na qual estariam "as Organizações Globo, o governo Lula e o sistema financeiro". Disse ter sido informado sobre uma suposta orientação do vice-presidente das Organizações Globo, João Roberto Marinho, para "bombardear" sua pré-candidatura e o governo de sua mulher, Rosinha Garotinho.

O pré-candidato também desafiou as Organizações Globo a dar publicidade a supostas irregularidades cometidas pela empresa. Segundo ele, antes de morrer o ex-governador Leonel Brizola lhe passou documentos que comprovariam que a empresa obteve do Banerj empréstimo a juros de 24% ao ano quando as taxas de mercado eram de 40%. Esse dinheiro teria sido investido em CDBs do Citibank. "Foi um crime contra o sistema financeiro", acusou Garotinho.

O diretor de redação do jornal O Globo, Rodolfo Fernandes, disse que a posição da empresa sobre o assunto está em notas publicadas anteriormente. Quanto à suposta orientação para atacar a família Garotinho, Fernandes diz que "se trata, evidentemente, de um delírio".

MAMADEIRAS

O dia de ontem foi marcado por manifestações contrárias e favoráveis ao pré-candidato. Os sindicatos dos agentes penitenciários e dos policiais civis do Rio ironizaram a greve de fome exibindo quentinhas com arroz e lingüiça calabresa, além de mamadeiras e sacos de bala. Seguranças do PMDB arrancaram cartazes dos manifestantes e a PM usou gás de pimenta. À tarde, Rosinha saiu em defesa do marido. "As pessoas talvez não saibam o que é entrar em greve de fome. É caminho sem volta", discursou por um megafone. "Os que debocham não conhecem o peso da mão justa do Deus em que creio." O pré-candidato foi avaliado ontem pelo médico Adbu Neme. Já perdeu 1,3 kg, e sua pressão subiu para 14 por 9.

A greve de fome repercutiu também na internet. Parte das manifestações sugere, em tom irônico, que ele leve o protesto às últimas conseqüências.