Título: Empresa adota cidade pobre
Autor: Andrea Vialli
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/05/2006, Economia & Negócios, p. B20

Projetos sociais serão concentrados em algumas das regiões menos desenvolvidas do País

Está surgindo uma nova maneira de realizar projetos sociais no país. Em vez de fazer várias ações isoladas, duas grandes empresas decidiram concentrar seus esforços em algumas das regiões mais pobres do País.

A Unilever, uma das maiores empresas do mundo, produtora de alimentos e artigos de higiene e limpeza, investe em programas sociais na pequena Araçoiaba, em Pernambuco. Seu compromisso é elevar os indicadores de qualidade de vida na região. Já a fabricante de cosméticos Avon apoia projetos no miserável Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais.

As duas empresas escolheram onde investir com base no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) - indicador usado pelas Nações Unidas para medir a qualidade de vida em cada região. As cidades escolhidas estão entre as que tem IDH mais baixo no País.

A Unilever firmou uma parceria com a prefeitura de Araçoiaba, município que está entre os dez piores IDHs do Estado de Pernambuco. Com investimentos de US$ 1 milhão em três anos, a empresa pretende elevar a posição do município, para que passe a figurar entre os dez melhores IDHs do Estado.

"O cálculo do IDH é baseado em dados de expectativa de vida, renda e educação, de modo que a atuação da empresa tem se concentrado nos pilares educação, saúde e desenvolvimento econômico", explica Elaine Molina, gerente de Responsabilidade Social da Unilever. O projeto Araçoiaba começou a ser implementado em janeiro de 2005, quando foi feito um censo para avaliar a situação do município e definir prioridades.

Trata-se de um grande desafio. Araçoiaba tem 17 mil habitantes e em torno de 5 mil analfabetos. Só 260 pessoas tem carteira de trabalho assinada. A economia local gira em torno da cultura de cana-de-açúcar, do pequeno comércio e dos programas assistenciais do governo, o que garante uma renda per capita mensal de R$ 74.

Os esforços têm se concentrado na área de educação. Uma das metas é alfabetizar 3.000 pessoas até junho de 2007, em um sistema inspirado nos métodos de educação de adultos desenvolvido pelo educador Paulo Freire. Outro pilar é conter a evasão escolar - desde que o programa começou, 800 jovens voltaram às salas de aula, e a meta até 2007 é chegar a 1,2 mil. Tudo é feito com parcerias com a prefeitura, que cede estrutura e funcionários, e com universidades pernambucanas.

Segundo Elaine, a chave para que um programa desse porte dê certo é a parceria. "Nossa estratégia é trabalhar com a prefeitura em um sistema de troca: a empresa não aporta recursos nos cofres do município" , diz. Com o Sebrae, está sendo desenhado um programa de geração de renda voltado às mulheres do município.

CULTURA Na semana passada, a Avon anunciou uma política de ações socioculturais voltada aos municipios do Vale do Jequitinhonha, considerado a região mais pobre de Minas Gerais.

A idéia é apoiar as manifestações culturais da região, do artesanato em barro à música típica. "São iniciativas que começam com um foco sociocultural e desembocam em benefício econômico, uma vez que o apoio à arte acaba estimulando a economia local, gerando empregos direta e indiretamente", explica Carlos Parente, diretor de Comunicação da Avon.

O Vale do Jequitinhonha concentra mais de 80 municípios, e pelo menos 40 terão artistas diretamente apoiados pela empresa, que investirá R$ 700 mil. As vendedoras da Avon divulgarão as iniciativas culturais. "A preocupação de um projeto como esse é estimular o desenvolvimento da região e promover a elevação do IDH" afirma Carlos Parente, diretor de Comunicação da Avon.

Para as empresas, essa é uma maneira também de destacar seus investimentos sociais em meio a uma infinidade de pequenos projetos que existem no País.

Para Fernando Rosseti, secretário do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife), entidade que reúne 88 institutos ligados à iniciativa privada, a busca por iniciativas sociais mais consistentes sinaliza um amadurecimento. "A tendência das grandes empresas hoje é não apenas fazer um projetinho social, mas pensar a comunidade como um todo."