Título: 'Mercosul não é jaula de ouro', diz Tabaré
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/05/2006, Economia & Negócios, p. B10

O inesperado retorno a Brasília, na segunda-feira, da ministra-chefe do Gabinete Civil da Presidência, Dilma Rousseff, para acudir a emergência da estatização boliviana, fará do Brasil o grande ausente na conferência anual do Conselho das Américas, que começa hoje em Washington. Estrela do evento, o presidente do Uruguai, Tabaré Vasquez, deve anunciar o interesse em aprofundar as relações comerciais com os Estados Unidos no discurso de abertura.

A mensagem do líder uruguaio deve intensificar a percepção de crise na América do Sul e suas implicações para a diplomacia brasileira, que vive talvez o mais embaraçoso momento de sua História. Ontem, antes de encontrar-se com o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Luís Alberto Moreno, Tabaré negou que o Uruguai tenha decidido deixar o Mercosul para fazer um acordo bilateral de comércio com Washington. Mas antecipou o tema provável do encontro que terá amanhã com o presidente George W. Bush, ao dizer que acordo do Cone Sul "não é uma jaula de ouro nem clube onde há sócios de primeira e segunda categorias".

Ele reclamou que as "enormes assimetrias do grupo têm feito com que os países menores, como Uruguai e Paraguai, não tenham sido beneficiados". Insistiu em que o Mercosul não pode continuar como está e deixou novamente no ar a possibilidade de redefinir as relações de seu país com acordo sub-regional em termos semelhantes aos do Chile, que é membro associado e fez um acordo bilateral de comércio com os EUA.

O aumento do sentimento protecionista no Congresso e a preocupação de Washington em preservar o diálogo com o Brasil e manter uma porta aberta para um futuro acordo hemisférico limitam a capacidade do governo Bush de anunciar já um acordo bilateral com Tabaré.

A nacionalização do gás e do petróleo pela Bolívia - outra constrangedora derrota sofrida pela diplomacia brasileira - estará também no topo das preocupações dos 300 executivos e representantes de governos esperados na conferência.

O porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack, sinalizou ontem a preocupação americana com a decisão, mas evitou fazer uma avaliação mais profunda.