Título: Multinacionais querem negociar
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Fonte: O Estado de São Paulo, 03/05/2006, Economia & Negócios, p. B10

A espanhola Repsol informa que está analisando todas as opções para garantir seus investimentos na Bolívia

As principais empresas multinacionais que investiram na Bolívia criticaram a nacionalização das reservas de petróleo e gás, mas ressaltam que querem negociar. Aproximadamente 25 grupos estrangeiros foram afetados pelas medidas.

A petroleira hispano-argentina Repsol YPF afirmou que está analisando todas as opções para proteger seus ativos na Bolívia e afirmou que ainda analisa a extensão legal da medida, mas que considera o movimento "perturbador". Segundo o presidente da Repsol, Antonio Brufau, a atitude boliviana "está fora da norma e da lógica empresariais que devem guiar as relações entre empresas e Estados". Ele alertou que a "Bolívia não deve ficar à margem do sistema político internacional".

Brufau também disse que o presidente da Bolívia, Evo Morales, foi injusto ao criticar as petroleiras, "que têm trabalhado com muito empenho no país".

A Repsol, junto com a Petrobrás, é a maior investidora estrangeira na Bolívia e pôs desde 1997, mais de 1 bilhão no país. Cerca de 18% das reservas da companhia estão no país andino. Ontem, na Bolsa de Madri, suas ações chegaram a cair 2%, mas se recuperam e fecharam o pregão com queda de 0,63%.

O governo espanhol insinuou que poderá retaliar a Bolívia. Autoridades alertaram que a decisão Boliviana teria "conseqüências para a relação bilateral", uma ameaça que pode resultar no fim do perdão da dívida externa boliviana. A Espanha disse estar "profundamente preocupado" com nacionalização e reclamou da "maneira que as mudanças foram feitas".

Também a British Petroleum (BP) está "analisando o impacto" da medida. Mas assegurou que "deseja buscar fórmulas para continuar trabalhando com o governo" boliviano. "Por enquanto, estamos avaliando os efeitos do anúncio e observando possíveis maneiras para colaborar com o governo", declarou um porta-voz da BP. "O ponto principal são os 180 dias de negociações para migração do contrato para aplicação do decreto. Veremos os detalhes e avaliaremos o impacto."

Ele lembrou que a companhia tem "pouca presença" no país. Os interesses da BP limitam-se a uma porcentagem na empresa Chaco, que tem 50% de participação da estatal YPFB. Os outros 50% são do consórcio PanAmerican Energy, formado pela BP, que tem 60%, e pela argentina Bridas, proprietária dos 40% restantes.

Já a transportadora de hidrocarbonetos Transredes, consórcio formado por Enron e Shell, anunciou seu "respeito" à decisão "soberana" do governo boliviano. Mas manifestou o desejo de que "a negociação a seguir seja em consenso com as empresas, salvaguardando os direitos de uns e de outros".

O grupo francês Total preferiu não se pronunciar.