Título: Empresas cobram firmeza do governo Lula
Autor: Ribamar Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/05/2006, Economia & Negócios, p. B7

Empresários cobram uma atitude firme do governo Lula em relação à crise criada pela nacionalização da exploração e comercialização de petróleo e gás na Bolívia.Eles exigem ações que garantam o cumprimento dos contratos de fornecimento de gás para o Brasil, a manutenção dos preços atuais e a preservação dos direitos de empresas como a Petrobrás, que investiu mais de US$ 1 bilhão no país.

"O que assistimos foi um show de pirotecnia, com intuito eleitoral, que não pode ser admitido pelo governo brasileiro", diz Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), referindo-se ao fato de o presidente Evo Morales ter anunciado o decreto em um campo da Petrobrás.

A interpretação de Skaf é de que Evo tenha usado a "demonstração de populismo" para fortalecer-se para as eleições da Assembléia Constituinte, em 12 de junho.

Skaf fez um relato de uma conversa que manteve pelo telefone com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na manhã de ontem, em que diz ter ouvido de Lula a afirmação de que não haverá corte no fornecimento de gás.

Mas ele não contou qual foi a resposta de Lula à cobrança da entidade, que pede uma atitude firme."Não iremos aceitar aumentos nos preços do gás." O Estado de São Paulo consome 75% do combustível que vem da Bolívia e quase 50% de todo o gás nacional.

Para Josué Gomes da Silva, presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o governo deve agir de forma enérgica, porém com prudência, na defesa dos interesses do País e das empresas brasileiras. "Temos um aspecto estratégico que é o suprimento de energia para o País".

O superintendente da Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro (Abividro), Lucien Belmont, concorda. "Precisamos do gás boliviano para fechar o balanço de energia elétrica, já que não foram feitos investimentos em novas usinas hidrelétricas no País". Para ele, cabe ao governo negociar uma saída para a crise criada pela Bolívia.

"A indústria pode chorar, espernear e reclamar, mas não pode fazer nada. O governo é o único protagonista nessa história e precisa decidir o que vale mais: o nosso orgulho nacionalista ou uma negociação que garanta o os direitos dos investidores e o suprimento de gás. Tem de ser duro, dizer que ficou bravo, que acha um absurdo, mas que precisa do gás deles".

Já a Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústria de Base (Abdib) defende a diminuição da dependência do País ao gás boliviano. "O melhor caminho seria a mesa de negociações, opção que o governo boliviano jamais deveria ter abandonado e que a Petrobrás e o Estado brasileiro vinham apostando", diz Paulo Godoy, presidente da Abdib. "Além da diplomacia, o Brasil deve apostar na aprovação de um marco regulatório específico para o setor de gás natural que seja atrativo ao investimento privado".