Título: Donos de carros a gás temem alta do combustível
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/05/2006, Economia & Negócios, p. B6

País tem frota de 1,3 milhão de veículos movidos a GNV; a cada ano são convertidos cerca de 22 mil

De aumento de preço ninguém vai escapar, avalia Alberto José Fossa, diretor da MDJ Assessoria e Engenharia Consultiva, especializada em normas de instalação de gás. Ele dá como praticamente certo o reajuste de preços do produto, isso se o impasse com a Bolívia não caminhar para uma situação ainda pior, ou seja, de desabastecimento.

O Brasil tem hoje uma frota de 1,3 milhão de veículos movidos com Gás Natural Veicular (GNV), volume que cresceu quase nove vezes desde 2000, quando havia 145 mil carros convertidos ao combustível. Em média, são convertidos atualmente 22 mil carros ao mês, segundo cálculos da Associação Brasileira de Gás Natural Veicular (ABGNV). O custo gira em torno de R$ 3 mil.

Muitos consumidores estão preocupados. "É uma injustiça aumentar o preço, pois 100% dos que fizeram a conversão foi para economizar", diz o alinhador técnico de carros e pastor Marcio Alves Rocha, que tem um Omega 1994, adquirido há seis meses. Ele mora no bairro do Limão, zona norte de São Paulo, e três vezes por semana vai a Mogi das Cruzes, para as pregações da igreja.

"Gasto em média R$ 12 a R$ 15 por viagem, mas se o carro fosse a gasolina ficaria em R$ 60", diz Rocha. Ele comprou o carro já convertido a gás e pagou cerca de R$ 2 mil a mais por causa disso.

TROCAR DE CARRO O operador de guindastes Moisés Ramos Nascimento diz que será "obrigado a trocar de carro se o preço do gás subir".

Ele tem um Monza 1995, pelo qual desembolsou R$ 2,5 mil extras por ser adaptado ao uso do gás. "Rodo diariamente 70 quilômetros e gasto mais ou menos R$ 25, mas um carro a gasolina gastaria de R$ 90 a R$ 100."

ECONOMIA DE 50% Recente estudo da MDJ mostra que um carro popular abastecido com GNV gasta R$ 13 para percorrer 100 quilômetros, metade do que gastaria um veículo a gasolina e pouco menos se fosse a álcool. "A economia é de 50%", confirma Jorge Spinola Berenguer, diretor-presidente da São Paulo Táxi, que tem metade da frota de 200 veículos movida a GNV.

Berenguer diz que muitos taxistas fizeram investimentos na conversão para ter margem melhor de lucro, pois a tarifa da corrida está defasada há três anos. Se não consegue ter retorno razoável, torna-se inviável para o motorista manter o carro atualizado, afirma.

Na Osasgás, uma das maiores empresas de conversão em São Paulo, são feitas cerca de 500 alterações ao mês, informa o diretor comercial Mauricio Brazioli. Segundo ele, ao contrário de anos atrás, quando a maior parte das conversões era feita por frotistas e taxistas, hoje metade dos serviços é para consumidores comuns. "Acreditamos que a crise com a Bolívia será resolvida no campo político, sem que ocorra suspensão de fornecimento", diz Brazioli.

SEM INCENTIVO Num cenário menos otimista, a crise com a Bolívia pode fazer com que o consumidor não consiga repor o investimento gasto na conversão, especialmente aqueles que fizeram a mudança recentemente. Normalmente, informa Fossa, é preciso de um a dois anos para amortizar o custo. "Todo o trabalho de incentivo ao uso do gás natural será perdido."

Para o coordenador de Assuntos Técnicos da ABGNV, Antonio José Teixeira Mendes, as regiões abastecidas pelo gás natural da Bolívia que podem ter problemas futuros de aumento de preço e falta de produto são Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e interior de São Paulo. Ele lembra que 40% da frota nacional está concentrada no Rio de Janeiro, que é abastecido pela Bacia de Campos.