Título: Especialistas calculam que gás pode subir de 10% a 15%
Autor: Irany Tereza, Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/05/2006, Economia & Negócios, p. B4

Técnicos destacam que essa avaliação ainda é preliminar, e que o aumento pode ser ainda maior

O preço do gás boliviano no mercado brasileiro deverá ser reajustado em pelo menos 10%, podendo chegar a 15% nos próximos meses. A avaliação foi feita ontem por especialistas em gás natural com base na interpretação do decreto de nacionalização assinado por Evo Morales. Há pouco mais de 60 dias, os usuários do gás boliviano já foram obrigados a incorporar um reajuste de 15% no preço por conta de mudanças na Bolívia.

Segundo Giuseppe Bacoccoli, pesquisador da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), a elevação do imposto de 50% para 82%, sem considerar aumentos de custos relativos ao transporte e distribuição, deve gerar uma alta de preço sozinha de 10% a 15% no Brasil.

Segundo ele, entretanto, este poderá não ser o reajuste final. A nacionalização permite agora a redefinição do preço do gás. O valor por milhão de BTUs é hoje de US$ 3,50. "No exterior, o valor do gás natural é de US$ 7,5 a US$ 8 por milhão de BTUs. Talvez não tenhamos uma elevação do preço nestes níveis, mas é certo que o valor por unidade será elevado nas renegociações de contratos que ocorrerão a partir de agora com o governo boliviano", diz Bacoccoli.

Saul Suslick, diretor do Centro de Estudos do Petróleo da Universidade Estadual de Campinas (Cepetro/Unicamp), afirma que os consumidores dos 25 milhões de m3 de gás natural importados da Bolívia diariamente terão de enfrentar a partir de agora um novo patamar de preço. "O preço será revisado, isso é certo. As empresas terão de enfrentar certa instabilidade de preços", diz.

Para Celso Arruda, professor do Departamento de Engenharia de Petróleo da Unicamp, o governo brasileiro deverá tentar amortecer o aumento de preço. "O preço subirá, isso ninguém discute mais. Mas acho que o governo federal usará a taxação para tentar amortecer o impacto, que não será pequeno. Deixará isso estourar no ano que vem, depois da eleição", analisou.

CERÂMICAS Para a Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmicas de Revestimento (Anfacer), o setor não dispõe de alternativa imediata ao gás natural. Adriano Lima, presidente da Anfacer, disse que 95% das indústrias cerâmicas usam gás natural. O aumento pode afetar a competitividade do setor. Hoje, o gás representa 30% do custo.