Título: Crise obriga País a explorar as reservas que possui
Autor: Irany Tereza, Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/05/2006, Economia & Negócios, p. B4

A crise desencadeada pela nacionalização das instalações petrolíferas na Bolívia forçará o Brasil a mudar a forma como lida com o gás natural. As reservas provadas de 330 bilhões de m3 terão agora de fazer parte de um plano estratégico de exploração do governo brasileiro, e não mais apenas da Petrobrás. É a única forma de o País reduzir a exposição em relação à Bolívia.

Segundo especialistas, o desenvolvimento do mercado de gás no Brasil não poderia ter sido estimulado sem um plano governamental para a ampliação da produção. O ritmo de exploração do gás é ditado hoje pela Petrobrás. Essa situação expôs metade dos consumidores brasileiros ao risco de desabastecimento e, principalmente, à inevitável elevação de preços no mercado interno. A auto-suficiência em petróleo terá de alcançar agora o gás natural.

O mercado brasileiro cresce mais de 15% ao ano. "É algo extraordinário, mas completamente ausente de um plano interno que garanta o crescimento da oferta", afirma Giuseppe Bacoccoli, pesquisador da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ).

Segundo ele, o primeiro passo é o País criar um novo marco regulatório para o gás natural. Além disso, o governo terá de desenvolver um plano de investimento para explorar a Bacia de Santos, investir na ligação Nordeste-Sudeste, com gasoduto, e criar o gasoduto na Região Sul.

Romero Oliveira e Silva, presidente da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), critica a "falta de compromisso" do governo na criação de um regulamento para o gás natural.

Hoje, dois projetos tramitam no Congresso. A Abegás afirma que a estratégia ficou por conta da Petrobrás. "Não foi a solução ideal. A Petrobrás é uma empresa, não é um governo. O governo era e é o responsável por pensar estrategicamente o futuro do gás natural. Hoje, temos reservas no País e, mesmo assim, enfrentamos esta situação de risco com a Bolívia", critica Silva.