Título: Para Planalto, Evo 'passou dos limites'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 03/05/2006, Economia & Negócios, p. B1

Avaliação, porém, é de que ele joga para a platéia e pode recuar

O presidente Lula não escondeu sua irritação na reunião para avaliar a nacionalização decretada por Evo Morales. Apesar das inúmeras ameaças de Morales, desde a época da campanha eleitoral, Lula não esperava que este tipo de medida fosse tomada nem agora, nem desta forma. Mas a orientação do presidente é a de insistir no caminho da negociação.

No Planalto, a avaliação foi de que Morales passou do limite e tomou uma medida "acima do tom", com o decreto. O presidente boliviano, segundo a avaliação que prevaleceu na reunião de ontem, fez um "gesto espetacular", considerado exagerado, em especial porque soldados do Exército boliviano ocuparam a refinaria da Petrobrás. Mas o governo também entende que Morales está "jogando para a platéia" porque, recém-empossado, precisa fazer maioria na Assembléia Constituinte que será eleita em julho e percebe que a radicalização política nesse momento l rende votos.

Neste raciocínio, lembram as fontes, a própria Bolívia indicou que poderia discutir sua decisão posteriormente ao fixar, em 180 dias, o prazo para a adaptação das empresas às novas regras. Este prazo foi interpretado como "uma janela" para reabrir as negociações posteriormente.

O decreto foi considerado extemporâneo, ainda mais que nas últimas semanas todas as conversações entre Petrobrás e governo boliviano estavam transcorrendo normalmente. Além disso, na semana passada uma delegação chefiada pelo vice-ministro das Relações Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães, esteve em La Paz para assinar acordos de cooperação em diversas áreas, como energia, saúde, agricultura e educação, que haviam sido prometidos por Lula a Morales, no dia de sua posse.

A assinatura do decreto, dias após a delegação ter deixado o país vizinho, foi entendida como um golpe pelas costas, uma espécie de traição.

Apesar disso, Lula continua, segundo interlocutores, defendendo o processo de integração da América do Sul, um dos pilares da sua política externa. Por isso, teria decidido não radicalizar com Morales. Mas a relação entre eles foi afetada.Até porque o próprio Morales havia se comprometido, logo após a eleição, a firmar parcerias com a Petrobrás.