Título: Delúbio admite que não agia sozinho
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2006, Nacional, p. A5

Mesmo empenhado em proteger o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-ministro José Dirceu durante depoimento à CPI dos Bingos, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares disse que não atuava sozinho, pois tinha aval superior para as operações financeiras com que alimentava o caixa 2 do partido. "Eu tinha uma procuração política da direção do partido", afirmou.

"De quem? Do presidente Lula, de Dirceu?", perguntou o presidente da CPI, senador Efraim Moraes (PFL-PB). "O senhor tem um documento? Uma ata que diga isso?", insistiu o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). "Não. Não há ata nenhuma. Eu tinha uma autorização política", respondeu Delúbio, em depoimento que durou cerca de quatro horas e meia. Ele se recusou a assinar o compromisso de dizer a verdade.

Na avaliação de Efraim, apesar de ter-se mostrado escorregadio e atento, o ex-tesoureiro acabou por deixar escapar que tinha chefes. "Está claro que fazia tudo a mando de alguém. Sabemos que eram ou Lula ou José Dirceu", disse o senador. A questão é que Delúbio não disse quem eram seus chefes.

Delúbio negou ter tentado extorquir entre R$ 40 milhões e R$ 50 milhões do banqueiro Daniel Dantas em troca do fim dos embaraços ao Grupo Opportunity: "Nunca pedi nem recebi nada do senhor Daniel Dantas." Admitiu, no entanto, que, a pedido do empresário Marcos Valério, teve uma reunião com Carlos Rodenburg, sócio do Opportunity. "Ele queria saber por que o PT não gostava do Opportunity. Eu respondi que nessa questão de negócio cada um tem sua forma de agir."

O ex-tesoureiro voltou a insistir que o dinheiro do caixa 2 do PT veio de empréstimos de Marcos Valério, não da cobrança de propina de empresas ou de operações dos fundos de pensão. Ao todo, segundo ele, para o PT foram entregues cerca de R$ 30 milhões e, para os partidos aliados, R$ 15 milhões.

O comitê financeiro da campanha de Lula, segundo Delúbio, era formado por ele, pelo então presidente do PT, José Dirceu, pelo ex-presidente do PL Valdemar Costa Neto e pelos presidentes do PC do B e do PCB. Os novos aliados, PSB, PTB e PP, apareceram na campanha para o segundo turno.

Delúbio falou pouco sobre doadores da campanha de Lula. Só não teve escape quando o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) insinuou que a Companhia Vale do Rio Doce fez uma grande doação ao PT logo depois de um encontro de Dirceu com Marcos Valério. Sem ter como negar a doação, registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ex-tesoureiro disse que a Vale e outras empresas deram dinheiro ao PT, como a outros partidos.

Ele alegou ainda não ter conhecimento de que empresas de bingo de São Paulo e do Rio tenham doado, por Estado, R$ 1 milhão para a campanha de Lula, em 2002. Afirmou não conhecer o advogado Rogério Buratti, que na própria CPI dos Bingos sustentou ter havido a doação dos bingueiros. E disse que não é verdade que tenha recebido dinheiro doado às prefeituras de Ribeirão Preto e Santo André - municípios administrados pelo PT, que cobrariam propina de prestadores de serviços.