Título: Para Lula, oposição não gosta de pobre, só de ar condicionado
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2006, Nacional, p. A12

Em mais um movimento de sua campanha não declarada pela reeleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem um discurso duro contra os tucanos, seus antecessores no governo e rivais na eleição de outubro. Sem citar nenhum nome do PSDB, Lula disse que há no Brasil políticos que não gostam de pobres, fazem política no conforto do ar condicionado e torcem para tudo dar errado para que então possam voltar ao poder.

O presidente esteve no Tocantins ontem para visitar um trecho da Ferrovia Norte-Sul, entre as cidades de Araguaína e Aguiarnópolis. No pátio da ferrovia, Lula andou de trem num trecho curto e foi recebido por cerca de 1.500 pessoas. Entusiasmado, deixou de lado o discurso escrito e improvisou por cerca de meia hora.

"Neste país, tem um tipo de político que não gosta de pobre, não respeita os trabalhadores, que acha que a gente dar dinheiro para a pessoa comprar arroz e feijão para comer é assistencialismo", disse Lula. Ao assegurar ter percorrido 91 mil quilômetros pelo Brasil durante três anos, antes da eleição de 1994, o presidente afirmou que aprendeu a conhecer o País e que seus adversários poderiam sair "andando pelo Brasil" para conhecer a real dimensão das necessidades do País.

"Quem vive fazendo política só na capital ou na universidade, ou quem fica fazendo política só em Brasília, não tem dimensão do Brasil real que nós enfrentamos", disse o presidente. "É muito fácil fazer críticas sentado numa sala com ar refrigerado, é muito fácil." Ao se comparar mais uma vez ao presidente Juscelino Kubitschek, Lula afirmou que é mais atacado do que era o criador de Brasília. "Todas as ofensas que faziam a ele fazem pior a mim. Toda vez que eu fico aperreado lá dentro, eu fico pensando: deixa eu ir me encontrar com o povo porque o povo pensa outra coisa."

Durante todo o pronunciamento, o presidente tratou os adversários apenas por "eles", a quem acusou de apostar no fracasso do País. "Tem um tipo de político que, por mais experiência que eles tenham, estão sempre torcendo para que as coisas não dêem certo no Brasil, para ver se eles voltam. Vocês acompanham a política, vocês percebem claramente que há pessoas que torcem para o País não dar certo."

Lula lembrou a quitação das dívidas com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e disse ainda que só agora o Brasil tem auto-estima. "Este país hoje não é mais um paisinho onde o presidente da República tinha que mandar o seu ministro da Fazenda ao FMI pedir dinheiro emprestado. Nós agora somos donos do nosso nariz."

Ao responder sobre o atraso na construção de uma hidrelétrica em Estreito (TO), cutucou mais uma vez a oposição: "Não tem nenhum brasileiro com mais vontade de construir as hidrelétricas do que eu, porque não quero a marca do apagão que já carregaram antes."