Título: Em quantidade, vendas externas já estão em baixa
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/05/2006, Economia & Negócios, p. B13

Redução é compensada por alta de 6,2% no preço médio dos produtos

A escalada do real ante o dólar já prejudica as exportações, complicando a situação das indústrias brasileiras. No mês passado, a quantidade de bens e serviços vendidos pelo Brasil no exterior diminuiu 3,3% em relação a abril de 2005. De acordo com levantamento da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), foi a maior queda nos últimos três anos, superando o resultado negativo de outubro do ano passado (-1,15%). O número desfavorável só não chamou a atenção porque o preço médio dos produtos brasileiros cresceu 6,2%, mais que compensando a redução das vendas no período.

Desde o início do ano, o volume das exportações acumula alta de 4,4%, enquanto os preços deram um salto de 12%, refletindo os efeitos do repasse de parte do aumento de custos provocado pela valorização do real. Para a Funcex, os números mostram a perda de competitividade do produto brasileiro.

"Os preços crescem quase três vezes o volume exportado, cujo ritmo já vem caindo há bastante tempo", diz o economista Fernando Ribeiro, da Funcex..

Muitas pequenas e médias empresas que estavam dando os primeiros passos no mercado externo estão ficando pelo meio do caminho. Só no primeiro trimestre, 680 empresas deixaram de exportar, informa a Associação do Comércio Exterior do Brasil (AEB). Ao longo de 2005, outras 971 já haviam abandonado o mercado.

Um exemplo é a Irmãos Perfeito, fabricante de botões instalado há 43 anos na capital paulista. "Começamos a investir nas vendas externas faz quatro anos, mas resolvemos desistir porque não dá para competir com um câmbio tão desfavorável", diz Edevalde Perfeito Júnior, sócio da empresa.

Até mesmo grandes companhias ameaçam jogar a toalha. A Schüler, fabricante de prensas mecânicas para estamparia da indústria automobilística, já perdeu seis oportunidades de negócios nos Estados Unidos, Canadá e México só neste ano, deixando de faturar US$ 33 milhões. "Estamos tentando fazer de tudo para ficar no mercado, mas está complicado", diz Paulo Tonicelli, diretor-administrativo-financeiro. Sua previsão para o fechamento do ano é de queda de 50% na venda de prensas.

Já a Big Moon, fabricante de móveis de Farroupilha (RS), aumentou os preços em dólar de seus produtos em 30% desde meados de 2005 e já perdeu quase toda a clientela. "Tínhamos 12 clientes nos Estados Unidos e Canadá e hoje temos só um", conta Ivanio Carraro, gerente-financeiro. A empresa fechou 100 postos de trabalho no período e hoje emprega apenas 50 pessoas.

Só no Rio Grande do Sul, as fábricas de móveis demitiram 10,5 mil trabalhadores nos últimos 12 meses, o que representou corte de 30% no emprego. Nas contas da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário, as exportações do setor devem cair 20% em relação ao ano passado, quando somaram US$ 960 milhões.

No setor de máquinas, as exportações cresceram 10% no primeiro trimestre, somando US$ 2,174 bilhões, ante US$ 1,977 bilhão no mesmo período de 2005. Mas as importação aumentaram 20,4%, de US$ 1,884 bilhão para R$ 2,268 bilhões.

"Boa parte das importações são de máquinas chinesas de baixa tecnologia", diz Newton de Mello, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).