Título: Lembo e MP sem acordo sobre lista
Autor: Silvia Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2006, Metrópole, p. C3

O Estado apurou que não houve acordo ontem entre o governador Cláudio Lembo (PFL) e o procurador-geral de Justiça paulista, Rodrigo Pinho, sobre o envio ao Ministério Público da lista com o nome dos 110 civis mortos durante a onda de violência comandada pelo PCC e os respectivos boletins de ocorrência. O governador, que se reuniu por duas horas com Pinho, acatou a opinião do secretário de Segurança, Saulo Abreu, que se opõe à divulgação dos nomes, alegando que os mortos seriam automaticamente identificados como membros do PCC. "Ele não quer que o caso vire uma nova Escola Base", disse um assessor do pefelista. "Há preocupação em ser justo."

O MP exigiu do governo estadual que a lista de mortos fosse entregue em 72 horas. O prazo termina amanhã. Se não for cumprido, o fato será considerado crime de desobediência.

Pinho manteve a cobrança das informações para iniciar as investigações e argumentou que, ao fim dos processos, vai se saber quem era ligado à facção. Procurado pela reportagem, o procurador-geral não quis revelar o tom da conversa. Indagado sobre as providências que pode tomar no caso, respondeu: "Precisamos esperar a lista. Sem isso não podemos começar a trabalhar."

'BOM, ÓTIMO'

Ainda que o encontro com Pinho não tenha sido conclusivo, Lembo classificou-o de "bom, ótimo".O governador tem afirmado que "não há nada a esconder". Ontem, em rápida conversa pelo telefone com o Estado, no início da noite, Lembo disse ter agido com firmeza na crise de segurança. "Você não combate bandido com diplomacia", observou. "Não se pode silenciar em momentos de guerra." Aos aliados, a quem atribui parte de culpa pelo quadro vivido no Estado, o pefelista avisou: "Cada um que assuma suas responsabilidades."

Após o encontro com Lembo, Pinho reuniu-se com promotores que atuam nos cinco Tribunais do Júri da capital e trabalharão nas investigações das mortes. A idéia é que cada homicídio seja investigado em separado, como manda a lei, mas que os promotores estabeleçam uma rede de informações.

A reportagem apurou que promotores têm tido problemas para acessar o sistema Infocrim, da polícia, com íntegras de boletins de ocorrência. O sistema, que tem estado fora do ar, permitiria iniciar investigações sem depender do governo.