Título: Estado reduz número de mortos
Autor: Silvia Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2006, Metrópole, p. C3

Uma semana depois da onda de ataques patrocinados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), o governo do Estado descobriu que 31 dos 110 civis mortos pela polícia entre os dias 12 e 19 - não são 111, conforme divulgado anteriormente - não têm relação com a guerra deflagrada contra a facção criminosa. Segundo o secretário da Segurança, Saulo Abreu, essas pessoas foram mortas em confrontos com a polícia depois de crimes comuns.

De acordo com a secretaria, em 8 dias, entre 12 e 19, aconteceram 31 mortes em confrontos rotineiros com a polícia - registradas como resistência seguida de morte. O total é quatro vezes superior ao ocorrido em 2005, quando morreram, em média, 7 pessoas por semana em confrontos com policiais.

"No meio da crise tinha que tomar uma decisão. Decidimos computar tudo. Agora, estamos depurando", disse Saulo ontem, ao anunciar os novos números. "Sempre colocamos que eram mortes decorrentes de confrontos. Nunca disse que todas eram ligadas à facção."

Segundo o comandante-geral da Polícia Militar, Eliseu Éclair, os dados são preliminares. "Ainda estamos cruzando informações. Mas já sabemos que 31 mortes não guardam relação com os ataques." Éclair disse ainda que a média de ocorrências da semana passada não pode ser comparada à de outras semanas. "31 mortes é um número elevado, eu concordo. Mas passamos uma semana em guerra, não dá para comparar com períodos normais."

Dos 79 mortos com ligação comprovada com a onda de ataques do PCC, de acordo com o governo estadual, 55 já foram identificados. Desses, segundo Éclair, 49 tinham antecedentes criminais. Dos 31 mortos em confrontos normais, somente 8 foram identificados até agora.

Saulo negou que a mudança nos números tenha relação com a polêmica sobre as condições em que ocorreram essas mortes. Há suspeitas de ligação de policiais com uma matança indiscriminada, um revide aos ataques do PCC. "Sumiu algum cadáver? Foi jogado no rio? Todo mundo a polícia levou pra onde? Para o IML e entregou na mão de médicos. Só estamos tendo classificações diferentes", respondeu Saulo.

A LISTA

O governo prometeu atender ao pedido do Ministério Público Estadual (MPE) e entregar a lista com o nome dos civis mortos e cópias dos boletins de ocorrência e dos laudos do Instituto Médico-Legal (IML). Saulo, no entanto, recusou-se a dizer se cumprirá o prazo dado pela promotoria, que vence amanhã. "Vamos tentar cumprir, mas não adianta chegar para o produto químico que tem de reagir (no cadáver) em dez dias e dizer que faça isso em dez minutos."

Ontem, o governador Cláudio Lembo, Saulo, a cúpula da polícia e o procurador-geral de Justiça, Rodrigo Pinho, tiveram uma reunião de quatro horas a portas fechadas na sede do governo estadual para discutir a entrega dos documentos.

O MPE quer investigar as circunstâncias das mortes. Entidades ligadas à defesa dos direitos humanos acusam a polícia de cometer execuções arbitrárias diante do clima de terror que assolou o Estado. Para a promotoria, a não-divulgação dos nomes contribui para dúvidas sobre as condições das mortes.

À imprensa, Saulo reiterou que não fará divulgação ao público dos nomes dos mortos. "Por princípio de governo, não podemos ter a irresponsabilidade de pôr um nome a público que venha ser de um inocente. Se vocês não souberem administrar a ansiedade fica difícil. Jogar para a platéia é fácil. Aqui não se faz isso", afirmou Saulo, quecriticou a divulgação pela imprensa de listas elaboradas por ONGs.