Título: Advogados de Marcola se contradizem
Autor: Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2006, Metrópole, p. C4

Apontados como cúmplices do PCC, os advogados Maria Cristina de Souza Rachado e Sérgio Weslei da Cunha caíram em contradição ontem, em depoimentos tensos na CPI do Tráfico de Armas. Os deputados exibiram imagens e e-mails que desmentem as alegações dadas para negar a compra de um CD, com depoimentos sigilosos dos delegados paulistas Godofredo Bittencourt Filho e Ruy Ferraz. O líder do PCC, Marcos Willians Camacho, o Marcola, soube do relato dos policiais, o que teria levado à onda de ataques em São Paulo. A sessão da CPI se arrastou ontem até quase meia-noite, numa acareação entre os advogados repleta de acusações mútuas.

Maria Cristina foi a primeira falar. Negou ter comprado e repassado a gravação, ao contrário do que confessou o técnico de som Arthur Vinícius Pilastre Silva - ele contou ter recebido da dupla R$ 200 pelo CD. Na chegada à CPI, a advogada levou um tombo. Ao depor, chorou, passou mal, mas não sensibilizou os deputados. Para integrantes da CPI, ela mentiu várias vezes. O falso testemunho não pôde ser considerado motivo para declarar a prisão dos dois, mas um pedido de prisão preventiva da dupla foi encaminhado à Justiça Federal em Brasília, na segunda-feira. Eles são investigados pelo Departamento de Polícia Legislativa por corrupção ativa e acusados pela CPI por formação de quadrilha.

"É um depoimento cheio de mentiras que será desconstruído", disse o relator da CPI, deputado Paulo Pimenta (PT-RS). "Ela não conseguiu explicar o que fazia em Brasília." A advogada afirmou que foi à reunião da comissão do dia 10 por pensar que Marcola fosse depor. Ao saber que não, ficou na Casa, por, segundo ela, não ter o que fazer. Pimenta ressalta que não havia motivos para Maria Cristina buscar cópia do depoimento da sessão reservada, já que ela não é advogada de Leandro Lima de Carvalho, preso acusado de ligações com o PCC, que depôs no mesmo dia. "Ela nega que tenha adquirido e ficado com o CD (cópia da gravação), mas Arthur e os funcionários da loja em que foram feitas as cópias dizem o contrário", continuou Pimenta. Além disso, ele afirma que a advogada mentiu ao se referir à troca de e-mail entre ela e Arthur. No depoimento, disse que sua secretária, de nome Sheila, respondeu à mensagem enviada pelo ex-funcionário, mas o relator mostrou cópia da mensagem assinada por "Cris".

Pimenta mostrou imagens do sistema interno da Câmara para contestar descrição de Maria Cristina sobre o encontro com o outro advogado e o ex-funcionário, antes de irem para o shopping onde foram feitas as cópias em CD. A CPI exibiu num telão imagens dos dois na Casa e fotos do sistema do shopping. Os três aparecem nos corredores e na porta da loja onde foram feitas as cópias. Sérgio Weslei da Cunha também negou fazer parte do PCC. Disse que pensou que a cópia entregue pelo funcionário fosse autorizada pela comissão. Cunha, advogado de Leandro Carvalho, argumentou que tinha direito de saber o que foi falado.

Mais tarde, acusações mútuas e bate-boca pontuaram a acareação dos advogados. Depois de quase oito horas de sessão, Cunha revelou, após negar por duas vezes, que já tinha visitado o líder máximo do PCC, Marcola, na penitenciária. A visita foi no dia 25 de janeiro, data de aniversário do criminoso. No mesmo dia, Maria Cristina também visitou Marcola, mas ambos negaram que tenham ido juntos.

Houve um grande bate-boca entre os advogados. Por muitas vezes, um acusava o outro de mentiroso. Os dois, no entanto, concordaram em acusar o ex-funcionário Pilastre Silva. Os advogados dizem que não ofereceram dinheiro e que não pagaram pelas cópias. Para o presidente da CPI, Moroni Torgan (PFL-CE), o depoimento do ex-funcionário foi mais firme.