Título: Mercados vivem um dia de sobe-e-desce
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2006, Economia & Negócios, p. B1

O mercado teve um dia de alta volatilidade ontem. O sobe-e-desce foi extremo: a Bolsa chegou a operar em alta de 2,93% durante a manhã, mas acabou fechando em baixa de 1,06%. O dólar teve mínima de R$ 2,25, mas fechou em alta de 0,17%, cotado em R$ 2,29. O risco país chegou a cair 5,02% pela manhã e encerrou o dia em 285 pontos, uma alta de 2,15%.

A aversão ao risco continuou pautando os movimentos dos investidores. "Não existe uma explicação concreta para o sobe-e-desce", diz Álvaro Bandeira, diretor da corretora Ágora Senior. "Os mercados estão muito voláteis porque os investidores estão tentando definir se houve um redirecionamento duradouro dos investimentos para ativos mais seguros ou se a Bolsa vai dar um repique."

Os mercados iniciaram o dia ensaiando uma recuperação e devolvendo alguns exageros diante das fortes perdas da véspera. A melhora de humor, no entanto, durou pouco e não resistiu às incertezas provocadas pela economia norte-americana.

Nos Estados Unidos, preocupações com o impacto dos altos preços do petróleo na economia reverteram o otimismo da manhã. O índice Dow Jones acabou fechando em queda de 0,25% e o Nasdaq recuou 0,65%. O mercado doméstico acompanhou o movimento de aversão a risco dos EUA.

Desde que o Fed elevou a taxa de juros para 5%, em 10 de maio e deixou aberta a possibilidade de novos apertos, os investidores iniciaram um movimento de realocação de carteiras, reduzindo posições em ativos de países emergentes para migração dos recursos para os títulos do tesouro norte-americano. Essa movimentação ganhou força nas últimas duas semanas, em meio ao aumento da preocupação com a inflação norte-americana, por causa especialmente do avanço do núcleo do CPI (índice de preços ao consumidor) acima do esperado pelo mercado.

Um fluxo financeiro negativo foi identificado à tarde no mercado local e também pode ter favorecido a desaceleração da queda do dólar, informou um operador. Os exportadores, de outro lado, ficaram retraídos diante da expectativa de que o dólar poderá subir mais por causa das incertezas sobre a continuidade da alta dos juros nos Estados Unidos.

Essa avaliação, ao que tudo indica, parece ser corroborada pelo Banco Central, já que a autoridade monetária não faz leilão de compra de dólar há cinco dias úteis consecutivos. Do mesmo modo, o BC não faz leilão de swap cambial reverso há mais de um mês.

PRIMEIRO BATE "O mercado está naquela fase: primeiro bate e depois pergunta", diz Maristella Ansanelli, economista-chefe do banco Fibra, referindo-se ao momento de aversão a risco dos investidores. "Só num segundo momento eles vão começar a diferenciar os emergentes, ver que o Brasil está em condições bem melhores do que a Turquia, por exemplo."