Título: Acordo do gás pode sair antes do prazo previsto
Autor: Paulo Moreira Leite
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/05/2006, Economia & Negócios, p. B1,3,4,5,6

Lula e Evo concordam com a necessidade mútua de preservar as exportações do gás boliviano para o Brasil

Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Evo Morales concordam com a necessidade mútua de preservar as exportações do gás boliviano ao Brasil e com a obrigatoriedade de se chegar a um acordo benéfico aos dois países.

Morales chegou a afirmar que esperava aumentar o fluxo de gás boliviano ao mercado brasileiro. Em um gesto de boa vontade, um de seus assessores adiantou que seria conveniente acelerar as negociações para que o acordo seja concluído antes do prazo de 180 dias definido pelo governo boliviano, que se esgotará em 1º de outubro próximo.

"Concluir o acordo antes do prazo seria melhor para abrir o caminho da cooperação desejado pelo governo brasileiro", disse o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

Escaldado, Amorim deixou clara suas ressalvas com relação ao encaminhamento dessa trégua e com as negociações da comissão bilateral, liderada pelos ministros de Minas e Energia, Silas Rondeau, e de Hidrocarbonetos da Bolívia, Andrés Soliz.

No encontro entre os presidentes, não foram tocados detalhes sobre os preços do gás natural e as possíveis indenizações à Petrobrás. Mas, uma vez mais, o chanceler afirmou que o Brasil depende do gás boliviano "pelo menos hoje, como está", em uma indicação de que o País deverá buscar outras fontes para o caso de essa importação tornar-se economicamente inviável.

Amorim também afirmou que as negociações e a cooperação brasileira se darão"com base nos documentos assinados". Segundo Amorim, ficou implícito o compromisso de que a Bolívia não tomará novamente atitudes unilaterais, como a quebra dos contratos da Petrobrás, determinada pelo decreto que regulamentou a nacionalização do setor de gás e petróleo.

"Os preços devem ser definidos racionalmente para beneficiar o Brasil e beneficiar a Bolívia", declarou o presidente boliviano. "Morales disse que (o preço do gás) será eqüitativo e racional. O que é racional, para nós, é que seja compatível com os empreendimentos que se valem do gás como insumo", reforçou Amorim.

CHÁVEZ

Ao deixar o encontro com Lula, Morales demonstrou seu interesse de poupar o presidente Hugo Chávez, da Venezuela, e de reforçar sua aliança com tal "companheiro".

Chávez foi apontado como um instigador da crise Brasil-Bolívia pelo próprio governo brasileiro, por ter estimulado Morales a adotar termos mais radicais no decreto que nacionalizou o setor do gás e a promover a ocupação militar das plantas da Petrobrás no país.

Valendo-se de uma tradicional argumentação dos caudilhos, Morales culpou novamente a imprensa pelas tentativas de colocá-lo em choque com Chávez. Mas assegurou que, como no caso de Lula, os meios de comunicação não terão sucesso.