Título: Lula e Evo selam trégua em Viena
Autor: Paulo Moreira Leite
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/05/2006, Economia & Negócios, p. B1,3,4,5,6

Na tentativa ainda de minimizar o conflito, o presidente da Bolívia volta a afirmar que não acusou a Petrobrás

Em um encontro de última hora, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e o boliviano Evo Morales selaram ontem uma trégua no conflito bilateral desencadeado pela decisão de La Paz de nacionalizar o setor de gás.

Na reunião no luxuoso hotel em que a delegação brasileira estava hospedada, em Viena, o presidente Morales afirmou a Lula que não havia acusado a Petrobrás, na manhã da quinta-feira, de contrabandear e de sonegar impostos em seu país e de valer-se de contratos ilegais para atuar na Bolívia. Preferiu culpar a imprensa.

O presidente Lula, por sua vez, fez de conta que não ouviu, na noite da mesma quinta-feira, a gravação das declarações de Morales, sob o pretexto de manter o diálogo aberto.

"Estamos sendo vítimas de alguns meios de comunicação, que buscam confrontar-nos. Não vão conseguir. O companheiro Lula e eu temos enormes coincidências porque Lula vem da luta sindical e eu venho do setor indígena-camponês. Por isso, as coordenações seguirão avançando aceleradamente", disse o presidente boliviano aos jornalistas, ao final do encontro.

"O que ele (Evo Morales) falou ontem e o que ele falou hoje são coisas absolutamente consistentes. Vamos deixar o ruído e nos concentrar na substância. O que vocês querem mais?", resumiu o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, ao apresentar seu relato conciliador dos resultados da reunião.

Lula recebeu Morales em sua suíte, cada um de um lado de uma escrivaninha. O encontro, segundo Morales, foi "ameno e cordial". A seu lado, Amorim relatou que o ambiente foi "descontraído".

A reunião foi concluída com um convite do líder boliviano para ir a La Paz para preparar sua visita ao Brasil, ainda não agendada. Ao comentar esse pequeno acerto de viagens, Morales brincou, valendo-se do plural majestático, que "temos muita vontade de jogar futebol com o presidente do Brasil".

"Foi uma iniciativa de recriar, de retomar o diálogo, de evitar mal entendidos", avaliou Amorim. "Nesse espírito, vamos trabalhar e defender os interesses da Petrobrás. Nós respeitamos os interesses da Bolívia, mas as coisas todas precisam ser resolvidas. Isso foi claramente compreendido."

Apesar dos sinais de trégua e de mostrar-se otimista com a virada da "página de mal entendidos", Amorim esquivou-se de cravar que o episódio está "superado".