Título: Estilista de trajes típicos de luxo veste Evo e famosos
Autor: Paulo Moreira Leite
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/05/2006, Economia & Negócios, p. B1,3,4,5,6

'Ele mostrou que não estava só esperando chegar ao poder para pôr um terno Armani', elogia Beatriz Canedo

É numa loja num dos pontos nobres de La Paz, onde os clientes só entram com hora marcada, que o presidente Evo Morales manda confeccionar as roupas típicas que veste nas festas e aparições públicas mais importantes. Propriedade de Beatriz Canedo Patiño, empresária e estilista que carrega o sobrenome do rei do estanho desapropriado pela revolução de 1952, a loja especializou-se numa das glórias do tecido boliviano, a lã de alpaca. Quem olha suas araras encontra peças entre US$ 240 e US$ 400, alguma coisa em torno de R$ 550 e R$ 900, valor caríssimo pelos padrões locais.

Na parede, a proprietária exibe fotos de visitantes célebres, como Hillary Clynton, a rainha Silvia, da Suécia, e até o presidente da França, Jaques Chirac, que certa vez ganhou um cachecol de presente. Com vários clientes entre as primeiras-damas sul-americanas, a grande glória de Beatriz Canedo é ter presenteado o papa João Paulo II com uma manta que ele portava em determinadas ocasiões. Com formação européia, de uns tempos para cá Beatriz passou a inspirar-se em motivos indígenas.

Foi ali que Evo e sua irmã, Esther, encomendaram as roupas usadas na posse. Beatriz Canedo conta que recebeu três instruções. "O presidente queria uma roupa para usar sem gravata, com motivos indígenas, em cores discretas." Ela preparou vários esboços, que depois foram levados ao presidente, que escolheu um modelo que possuía um padrão de tecido criado há 100 anos. "Ele acatava minhas sugestões e dizia que desse assunto eu entendia."

Beatriz acredita que o vestuário da posse foi um sucesso mas lamenta que, na última hora, o presidente tenha esquecido uma camisa que mandara fazer para formar um conjunto. De lá para cá, Evo encomendou outras cinco peças na loja, em sua maioria jaquetas.

Sem revelar em quem votou, a empresária confessa que ficou impressionada com Evo por duas razões. "Ele mostrou que não é uma pessoa que só estava esperando chegar ao poder para pôr um terno Armani. Ele é coerente."

O outro motivo foram as condições de pagamento. "Ele me disse que iria pagar com seu dinheiro e fiz a nota em seu nome. Dei um desconto de 5%."

Beatriz Canedo chegou a ter negócios em Nova York, mas está convencida de que a Bolívia pode se transformar num ponto de exportação importante. "Só precisamos de apoio."