Título: Brasil está mais forte, diz OCDE
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2006, Economia & Negócios, p. B4

O Brasil reduziu acentuadamente a sua vulnerabilidade externa e vive uma recuperação econômica, mas o governo deve reforçar seu compromisso com políticas econômicas sólidas para enfrentar possíveis turbulências com a aproximação das eleições de outubro. O comentário é da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em seu estudo semestral Perspectiva Econômica.

Em sua análise sobre a economia mundial, a instituição, com sede em Paris, alertou também para os crescentes gastos públicos no Brasil. "Há uma crescente preocupação de que mais reformas serão necessárias para lidar com o aumento dos gastos correntes", diz o texto.

O estudo - concluído antes da volatilidade nos mercados globais nos últimos dias - avalia que o balanço dos riscos para o Brasil continua positivo.

O economista Luiz de Mello, analista responsável pelo Brasil na OCDE, explicou ao Estado que, apesar do forte nervosismo dos mercados desde a semana passada, a redução da liquidez global resultante da alta dos juros nos Estados Unidos deverá ocorrer de forma gradual e moderada.

"Vimos, nos últimos dias, movimentos abruptos no mercado, mas não achamos que deverão ser a regra nesse processo de ajuste a alta dos juros nos Estados Unidos", disse Mello. "Consideramos que o Brasil tem condições de lidar bem com esse novo ambiente."

Apesar desse cenário moderadamente positivo, a OCDE não descarta a hipótese de os desequilíbrios na economia mundial causarem turbulências mais sérias para o País.

"Além disso, na frente doméstica, o barulho político na eleição presidencial poderá adicionar incertezas às perspectivas (do Brasil)", disse Mello. "É, portanto, aconselhável que as autoridades reforcem seu contínuo compromisso com políticas econômicas sólidas."

O economista explicou que a preocupação com o gerenciamento fiscal se concentra a partir de 2007. "O aumento de gastos não poderá mais ser resolvido pela elevação da carga tributária, que já é elevadíssima", disse. "O Brasil terá de adotar mais reformas para reduzir gastos e liberar recursos para investimentos."

A OCDE observa também que o conjunto da política macroeconômica continua pendendo para a restrição monetária, apesar do sustentado declínio das taxas de juros.

GANHANDO FÔLEGO Para a entidade, a recuperação econômica do Brasil decepcionou no ano passado, mas agora está ganhando fôlego, sustentada pelos gastos dos consumidores e pelas exportações. "O investimento está fadado a retornar", diz. "A desinflação está em curso, os indicadores de vulnerabilidade externa melhoraram muito e os balanços comercial e de conta corrente continuam a registrar superávits robustos." A entidade estima que o Produto Interno Bruto brasileiro crescerá 3,8% neste ano e 4% em 2007.

A OCDE observou, ainda, que o Banco Central continua acumulando reservas internacionais e o País tem reduzido a dívida externa por meio da recompra de títulos.

"A exposição da dívida pública ao risco cambial foi eliminada, tornando o gerenciamento da dívida consideravelmente mais resistente à volatilidade nos preços dos ativos."