Título: Palestinos tentam driblar a crise
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Fonte: O Estado de São Paulo, 14/05/2006, Internacional, p. A20

Com a chegada do Hamas ao poder e o fim da ajuda internacional, a economia local está à beira do colapso

Desde que o Hamas, grupo responsável pela morte de mais de 600 israelenses, chegou ao poder da Autoridade Palestina, no fim de março, o noticiário foi invadido por uma enxurrada de cifras e porcentuais. Logo após a posse, Israel cortou a transferência mensal de US$ 55 milhões, dinheiro que vinha dos impostos cobrados de importações destinadas aos palestinos.

Em seguida, EUA, Japão e União Européia suspenderam a ajuda financeira de cerca de US$ 100 milhões por mês. A causa foi a mesma: a recusa do Hamas de abdicar da luta armada e de reconhecer a existência de Israel. De acordo com cálculos do Banco Mundial, esses cortes provocariam, até o final de 2006, o crescimento do desemprego de 23% para 40% e o aumento do percentual de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza de 44% para 67%.

Na segunda-feira, dia 8, o teor de um relatório do Banco Mundial, ainda inédito, vazou. E a conclusão desse novo estudo é que os cálculos anteriores estavam muito otimistas. Ou seja, mantida a situação atual, as conseqüências dos cortes, ao final deste ano, serão mais drásticas. Na terça-feira, os EUA e seus aliados europeus concordaram em criar um fundo de ajuda humanitária desde que o dinheiro não passe pelas mãos do governo local. Os detalhes ainda são nebulosos e não se sabe quando o dinheiro de fato chegará.

Um dia antes desse anúncio, a repórter Daniela Kresch saiu a campo para descrever a vida real nos territórios sob a administração do Hamas, que se mantém irredutível diante das demandas do Ocidente e, há dois meses, não paga os salários de 165 mil funcionários públicos, afetando diretamente um terço dos cerca de 3,5 milhões de palestinos .

Os depoimentos abaixo, fruto da apuração em quatro cidades da Cisjordânia (Ramallah, Betúnia, Belém e Jenin), não pretendem resumir toda essa questão. Mas diante da indisponibilidade de pesquisas sobre a qualidade de vida nos territórios ocupados, a reportagem traduz os efeitos das cifras e porcentuais na vida de vários protagonistas: um padeiro, um policial, um motorista, um comerciante, seus parentes, amigos e clientes.