Título: Para Aneel, 'sem querer' Evo ajudou o Brasil
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2006, Economia & Negócios, p. B6
O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jerson Kelman, disse ontem que, "sem querer", o presidente da Bolívia, Evo Morales, acabou abrindo no Brasil um debate de extrema importância no que diz respeito ao mercado de gás natural. "Essa crise teve um lado positivo, porque especialistas já diziam há algum tempo que havia um racionamento oculto no gás", afirmou Kelman.
Ele disse que, hoje, se todas as termoelétricas do País movidas a gás tivessem de funcionar plenamente para fornecer energia ao sistema (o que não é necessário atualmente por conta do nível satisfatório dos reservatórios das hidrelétricas), não haveria gás suficiente para todas. Isso, independentemente da crise com a Bolívia.
O diretor da agência comentou, contudo, que a situação do Brasil é muito cômoda no processo de negociação com a Bolívia. "Nossa situação é muito cômoda porque, num eventual caso extremo de a Bolívia fechar a torneira do gás, nós sobreviveríamos, mas a Bolívia certamente precisaria vender seu gás para o Brasil".
Kelman disse que, do ponto de vista da geração de energia elétrica, por exemplo, o Brasil atualmente não sofreria com uma eventual suspensão do fornecimento do gás boliviano, uma vez que os reservatórios das usinas hidrelétricas estão cheios, e o abastecimento de energia no País não está dependendo das usinas termelétricas movidas a gás.
No cenário extremo de o Brasil não mais receber gás da Bolívia, o importante seria garantir, segundo o diretor da Aneel, que não haverá restrições no abastecimento de gás em 2008 no caso de estarem mais baixos os reservatórios das hidrelétricas.