Título: Bolívia reduz estimativa de reservas
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/05/2006, Economia & Negócios, p. B6

As reservas bolivianas de gás natural são menores do que as estimadas até hoje, admitiu a estatal local YPFB. A empresa anunciou o rompimento do contrato com a empresa americana certificadora de reservas DeGoyle & MacNaughton, a quem acusou de superestimar os dados nos últimos anos. A direção da YPFB já abriu concorrência para contratar outra certificadora, que definirá quais são realmente os recursos do país.

Segundo os cálculos da De Goyle, a Bolívia tinha reservas provadas de 26,47 trilhões de pés cúbicos (TCF) em dezembro de 2004, último número disponível. Somando as reservas prováveis - que têm potencial menor de produção e necessitam de estudos complementares para comprovação - o país tinha 48,76 TCF no fim daquele ano, o que o colocava na segunda posição entre as maiores reservas de gás da América do Sul, atrás apenas da Venezuela, que diz ter 150 TCF. A título de comparação, o Peru, no mesmo período, tinha 16,7 TCF entre reservas provadas e prováveis. Já o Brasil contava com 11,8 TCF.

Em entrevista na segunda-feira, o presidente da YPFB, Jorge Alvarado, disse que a De Goyle vinha repassando dados falsos sobre as reservas bolivianas, e por isso teve seu contrato rescindido. A empresa foi contratada pelo governo boliviano em 1996 para reunir informações com as petroleiras que operam no país e, no fim de cada ano, repassar à YPFB estimativas oficiais de reservas.

Os números das petroleiras que operam no país, porém, já destoavam porque usavam metodologia diferente da utilizada pela consultoria americana. Em 2004, por exemplo, a Petrobrás declarou ter reservas de 3,68 TCF na Bolívia, enquanto os dados oficiais apontam que, apenas os campos gigantes de San Alberto e San Antonio, operados pela estatal brasileira, tinham 12,9 TCF no período.

Como a Petrobrás tem 35% de cada projeto, deveria, segundo a metodologia adotada pela De Goyle, reportar pelo menos 4,5 TCF no país, sem contar as reservas menores.

"As petroleiras são mais conservadoras na análise das reservas, pois só contam aquilo que tem alta possibilidade de recuperação", diz o analista boliviano Carlos Lopez. Segundo fonte da YPFB, a De Goyle já planejava mudar sua metodologia, reduzindo a estimativa de reservas, o que motivou a rescisão do contrato pela estatal boliviana.

"Apenas apresentamos nossos dados à certificadora, que os interpreta segundo sua própria metodologia", afirmou o presidente da Petrobrás Bolívia, José Fernando de Freitas. A Câmara dos Hidrocarbonetos, que representa o setor, afirmou que as medições oficiais não são feitas pelas empresas, que, portanto, não podem ser culpadas.