Título: Irã avisa: sob ameaça, não negocia
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Fonte: O Estado de São Paulo, 14/05/2006, Internacional, p. A18

Ahmadinejad diz que só dialogará se ONU não ameaçar usar a força para que o país desista de enriquecer urânio

O Irã está pronto para dialogar com qualquer país exceto Israel, mas nunca sob a ameaça do uso da força, disse ontem o presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, durante uma reunião de cúpula de países islâmicos em desenvolvimento, na Indonésia. Ele se referia à decisão do Conselho de Segurança da ONU de retomar as negociações diretas com o Irã, por intermédio da França, Grã-Bretanha e Alemanha, para convencer o país a desistir do enriquecimento de urânio.

A idéia do Conselho é colocar o Irã diante de uma opção: ou aceita um pacote de benefícios econômicos para desistir do enriquecimento de urânio ou poderá ser submetido a sanções. O governo iraniano alega que seu objetivo com esse processo é pacífico, para produção de energia elétrica, mas o Conselho suspeita que o país planeja construir armas atômicas.

"Se eles querem recorrer ao uso da força não vamos iniciar diálogo. Estamos prontos para manter diálogo com todos os países do mundo, exceto o regime israelense", disse Ahmadinejad a jornalistas, garantindo que seu país cumprirá seus compromissos com o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP) e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). "Todos sabem cem por cento que o programa nuclear do Irã é totalmente pacífico."

Os oito líderes de países islâmicos, entre eles o Paquistão, divulgaram uma nota manifestando seu apoio ao direito das nações de desenvolverem energia nuclear para fins pacíficos.

Nas últimas semanas o governo iraniano tem insistido em sua disposição de negociar, mas ao mesmo tempo afirma que não cederá na exigência básica do Conselho de Segurança: o abandono do enriquecimento de urânio. Ontem, o chanceler do Irã, Manouchehr Mottaki, disse que os europeus "não deveriam repetir o erro de exigir o fim do enriquecimento de urânio", demanda que levou ao fracasso as negociações prévias com Grã-Bretanha, França e Alemanha, encerradas em 2005. "Qualquer incentivo que não inclua o direito do Irã de desenvolver tecnologia nuclear não atrai de modo algum nosso povo nem nosso governo", enfatizou Mottaki.

Os europeus devem reunir-se amanhã para discutir o pacote de incentivos econômicos, cujos detalhes não foram revelados. Se persistir a rejeição do Irã à proposta, a questão se encaminha para novo impasse, já que Rússia e China, detentores de poder de veto no Conselho, deixaram claro que não aprovarão nenhuma resolução com menção a sanções ou ao uso da força.