Título: Grampos revelam atuação dos sanguessugas no Rio
Autor: Wilson Tosta e Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/05/2006, Nacional, p. A6

Interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal com autorização judicial mostram que alguns envolvidos no escândalo dos sanguessugas citavam com freqüência políticos do Rio, prefeitos e funcionários de municípios fluminenses. As escutas, em telefones de suspeitos de participar de licitações fraudadas e superfaturadas para beneficiar o grupo da Planam em vendas de veículos e equipamentos, mostram discussões de propina e de editais que dariam vitória à quadrilha em licitações. Apontam, ainda, para novos envolvidos no escândalo. Pelo menos 15 municípios do Rio são citados.

Em geral, as menções aos políticos são indiretas: eles não aparecem falando, embora às vezes sejam citados como destinatários de dinheiro ou colaboradores do esquema. Uma exceção é o prefeito de Itaguaí, Carlos Busatto Júnior, o Charlinho (PFL). No início deste ano, Angelita Felipe Nunes, secretária de Ronildo Medeiros, um dos acusados de integrar a quadrilha, ligou para o celular do prefeito para marcar uma conversa dos dois.

Outro telefonema, interceptado meses depois, mostra Medeiros e o sobrinho, Rogério, discutindo valores que iriam para Charlinho. "O cara não é bobo não,está vindo do terceiro mandato", diz Medeiros.

Charlinho primeiro negou os contatos, depois admitiu ter conversado com as empresas, mas só para tratar de itens comprados. E negou irregularidades.

Outro prefeito citado é Fábio Vieira (PSDB), de Valença. Em 18 de janeiro, Medeiros pede a um homem identificado como Guto os telefones do prefeito. O homem passa os números do gabinete e do celular. "Quem vai ligar?", pergunta. "É o deputado e futuro senador Vieira Reis (PRB-RJ)", avisa Medeiros.

Apesar de estar no cargo desde dezembro - quando assumiu no lugar do prefeito Fernando Graça, que morreu -, Vieira também negou envolvimento com o esquema, por meio de assessores. O prefeito e o deputado não quiseram dar entrevista.

BAIXADA

As escutas também detectaram negociações envolvendo Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Em duas ocasiões - 4 de janeiro deste ano e 29 de dezembro de 2005 -, interlocutores mencionaram o pagamento de R$ 96 mil, sem dizer a finalidade.

Em dezembro, Medeiros reclamou com Luiz Antônio Trevisan Vedoin, da Planam: "O desgraçado lá (em Nova Iguaçu) não quer mandar o cheque." Luiz Antônio responde: "O cara não pode segurar tudo, pois foi entregue". E pergunta pela parte dele. Medeiros responde que "passou os 25 mil" e conta que o sobrinho "manda no prefeito".

A atual administração de Nova Iguaçu, do prefeito Lindberg Farias (PT), diz que não fechou contrato com as empresas envolvidas - alega que todos foram firmados em governos anteriores. O Estado apurou que em Nova Iguaçu há cinco processos de compra de produtos fornecidos pelo grupo da Planam, de 2000 a 2004, nas gestões de Nelson Bornier (PMDB) e Mário Marques (hoje no PSDB).O total beira R$ 1 milhão. Foram detectados vários problemas.

No convênio 1.380/01, para compra de duas ambulâncias e dois ônibus médico-odontológicos, por R$ 364 mil, venceu a Klass, de Cuiabá. Dado pitoresco: o edital só saiu num jornal de Nova Iguaçu, mas os três concorrentes eram de outros Estados.

Em outro convênio, assinado no governo Marques, foram comprados da Planam seis veículos Doblô. Cada um custou R$ 63.300, mas o preço de mercado era de R$ 46 mil. Bornier e Marques dizem não se lembrar dos convênios e se eximiram de qualquer responsabilidade.