Título: Briga entre Tasso e Lúcio Alcântara racha PSDB-CE
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/05/2006, Nacional, p. A9

Ao mesmo tempo em que trabalha para superar as divergências entre PSDB e PFL na condução da campanha de Geraldo Alckmin à Presidência, o presidente tucano, senador Tasso Jereissati, não conseguiu reproduzir até agora a aliança no ninho doméstico, no Ceará. O próprio PSDB cearense ainda tenta curar as feridas do racha na corrida pela reeleição do governador Lúcio Alcântara, que recusou proposta de Tasso e Ciro Gomes (PSB)para aliar-se ao PSB e concorrer ao Senado. O governador e Tasso não se falam desde a última visita de Alckmin ao Estado, há quase um mês.

Ex-prefeito de Sobral, Cid Gomes (PSB) será o principal candidato de oposição a Lúcio Alcântara. Irmão de Ciro, conquistou o apoio do PT e quer garantir a coligação PC do B e PMDB, que brigam pela vaga ao Senado. O presidente da CPI do Tráfico de Armas, deputado Moroni Torgan (PFL), ainda não definiu se levará o partido para a chapa de Alcântara. Os tucanos o querem como candidato ao Senado, mas ele resiste.

Em 30 de março, Tasso recebeu Alcântara e o ex-ministro Ciro em seu gabinete no Senado. Foram discutidas várias hipóteses para a sucessão no Ceará. Uma delas, segundo o governador, definia Cid Gomes como o candidato do grupo ao governo, sob a condição de que ele apoiasse Alckmin. O vazamento da conversa na imprensa - segundo Cid, patrocinado deliberadamente por assessores de Alcântara - provocou um tiroteio entre os chamados "lucistas" e "tassistas". E o governador acabou por confirmar sua recandidatura, rompendo a aliança que une Tasso e Ciro no comando do Ceará há 20 anos.

IRRITAÇÃO

Três dias depois desse encontro, Tasso convocou reunião com prefeitos e deputados tucanos. Irritado, repetiu que não tinha "duas caras" e fez críticas a "interferências domésticas" de pessoas próximas a Alcântara na administração do Estado. Segundo o senador, o governador havia lhe dito que não pretendia tentar a reeleição. E que tanto ele quanto Ciro sabiam que seria "praticamente impossível" marchar juntos no Ceará.

"Por desencargo de consciência, colocamos a possibilidade de encontrar uma alternativa comum, inclusive a do Cid. Colocamos 'n' alternativas. O (nome) dele foi citado (para o governo), o meu foi citado, o do enfrentamento foi citado", discursou Tasso, dizendo-se "chateado" com o episódio, mas disposto a apoiar qualquer candidato escolhido pelo partido. O senador não foi ao lançamento da candidatura de Alcântara.

"Eu não queria ser candidato ao Senado", diz o governador. "Há uma divergência ultrapassada do ponto de vista político se Tasso já disse que me apóia." Ele sustenta estar "tranqüilo" em relação ao desempenho de seu governo, o quinto da série iniciada por Tasso em 1987.

"Tasso é homem de partido, não existe jogo duplo. A campanha vai reunificar o PSDB", diz um dirigente tucano ligado ao presidente do PSDB. Tasso não se manifestou. Esse mesmo dirigente admite, porém, que, seja qual for o resultado da disputa entre o governador e Cid, Tasso sairá vitorioso. "Cid compartilha de um projeto para o Ceará inaugurado pelo senador."

O pré-candidato do PSB pode se beneficiar da disputa interna tucana. E sustenta que já foi procurado por prefeitos e integrantes da base do PSDB. Mas ele nega que isso tenha relação com a questão de Tasso. "Não quero fazer juízo de outro partido. São conflitos locais, por causa de atitudes antagônicas do governador", diz. "Acho que o Tasso é pessoa partidária, vai votar em Alcântara."

Com o petista Francisco Pinheiro indicado para vice, Cid prega a "renovação" do Estado e acusa o governador de reeditar métodos do "coronelismo". Alcântara insiste em que não tem reparos à sua administração, mas a vontade de manter seus programas de "desenvolvimento com inclusão social". A eleição cearense deve ser polarizada entre os dois. Outros candidatos nanicos e o ex-desembargador José Maria Melo, do PL, devem entrar na disputa. Ainda não há pesquisas registradas e divulgadas no Estado.