Título: Após crise, Alckmin e vice nas ruas
Autor: Rodrigo Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/05/2006, Nacional, p. A14

Após dias de tensão e desencontros entre os dois partidos, a coligação PSDB-PFL começou a dar os primeiros sinais de entendimento. Na terra e na companhia do presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), o pré-candidato à Presidência da República pelo PSDB, Geraldo Alckmin, teve ontem seu primeiro dia de campanha ao lado de seu vice na chapa, senador José Jorge (PFL-PE).

Além do fim do fogo amigo, a coligação endureceu as críticas ao governo federal, com Alckmin chamando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de mentiroso, ao criticar o "crescimento de Haiti" do Brasil nos últimos anos frente a crescimento muito mais expressivo dos países vizinhos ou emergentes em geral.

"É só promessa, promessa, promessa. É tudo propaganda. Transposição do São Francisco, não existe. Ferrovia Transnordestina, não existe. Primeiro Emprego, não existe. Banco Popular, não existe. Fome Zero, não existe. Vi propaganda do Fundeb na televisão. Não existe, tudo fim de governo, promessa, falta de compromisso pela verdade, mentira política, coisa que devia estar abolida", discursou o pré-candidato tucano a correligionários, em Blumenau. "Primeira coisa que se aprende em casa, na família é isso: não minta", insistiu.

Na hora de provar que as rusgas da coligação cessaram, mais uma vez o governo Lula serviu de mote. "É uma aliança entre dois grandes partidos que fazem oposição sistemática ao PT há quatro anos", afirmou Alckmin.

MONÓLOGO

Questionado sobre as pesquisas que dão a ele cerca de 20% da intenção de votos, menos da metade do indicado a Lula, Alckmin lembrou mais uma vez o fato de o presidente ter a máquina nas mãos e estar sempre muito exposto na mídia, enquanto ele ainda não iniciou a campanha no rádio e na TV. "O que estamos tendo agora é um monólogo, só o Lula fala, não tem o contraditório."

Alckmin descarta uma vitória petista no primeiro turno e acredita que a recorrente vantagem de Lula nas pesquisas pode ser providencial para sua vitória na eleição. "Até acho bom essa coisa do PT dizer que quer ganhar no primeiro turno porque vai haver segundo turno e aí já vão derrotados pro segundo turno psicologicamente. Cria uma expectativa de que a eleição acaba no primeiro. Não acaba, vai ter segundo turno. Aí nós vamos para uma situação de extremo favoritismo."

Após os discursos iniciais, Alckmin seguiu com José Jorge, Bornhausen, o senador Leonel Pavan (PSDB-SC), outros políticos locais e correligionários para um corpo-a-corpo na Strassenfest, tradicional festa alemã de Blumenau.

Mais expansivo, Alckmin foi muito assediado para cumprimentos e fotos, muitas delas ao lado de senhores e jovens animados pelo chope. José Jorge deu por encerrado o fogo amigo de setores de seu partido contra o tucano e a cúpula do PSDB. Ele explicou que teve um encontro na sexta-feira com o prefeito do Rio, César Maia (PFL), fervoroso opositor da coligação.

No encontro ficou acertado o silêncio de Maia que, em troca, teve a garantia de participação direta nos rumos da campanha. "Maia vai trabalhar como um técnico", adiantou Jorge, que se comprometeu a repassar quinzenalmente as pesquisas da coligação para o prefeito analisar. "Eu acho que o fogo amigo acabou realmente. Nós criamos o conselho político com os principais líderes dos dois partidos e, a partir daí, todas as questões ou divergências que existirem serão resolvidas no âmbito do conselho e não na imprensa", declarou o senador.

Para Jorge, enquanto não ficarem definidas as coligações estaduais os conflitos ainda podem surgir, mas longe de alcançar a proporção da última semana. "Enquanto não forem resolvidas todas as questões estaduais algum tipo de ruído vai aparecer."

Jorge considera que a visita a Santa Catarina, primeiro compromisso de campanha com Alckmin, representou uma resposta simbólica a quem alimentou que a coligação iria rachar. No entanto, o vice avisou que ele e Geraldo Alckmin manterão agendas separadas, como estratégia para tentar reduzir a diferença a favor de Lula no Nordeste.