Título: Evo bate recorde com 81% de aprovação entre eleitores
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/05/2006, Internacinal, p. A19

O presidente boliviano Evo Morales atingiu, em maio, recorde histórico de aprovação entre os eleitores. Segundo pesquisa realizada pelo instituto Apoyo, Opinión y Mercado Bolívia, 81% dos entrevistados nas quatro maiores cidades do país aprovam o governo do líder cocaleiro. O levantamento indicou que Morales ganhou 13 pontos porcentuais após o anúncio de nacionalização das reservas de petróleo e gás natural.

O resultado é encarado como uma indicação de que o partido do presidente, o Movimento ao Socialismo (MAS) vai conseguir um bom número de cadeiras na Assembléia Constituinte que será convocada em julho.

Ontem, partidos de oposição fizeram críticas à presença do presidente venezuelano Hugo Chávez no lançamento da campanha do MAS à Constituinte. "Lamento profundamente que um processo tão importante como esse, que tem que ser feito com bolivianos e por bolivianos, esteja seriamente contaminado pela participação de estrangeiros", disse o porta-voz do Poder Democrático Social (Podemos), Antônio Aruquipa.

Em duas cerimônias para o anúncio de convênios entre Bolívia e Venezuela, Chávez afirmou que o país só terá as mudanças necessárias se o MAS tiver a maioria dos votos no pleito de julho. "A Bolívia é altamente dependente de convênios com outros países, mas não me lembro de outro país que tenha feito campanha por um governo", conclui Aruquipa.

A preocupação da oposição boliviana tem respaldo na admiração que parte dos bolivianos têm pelo presidente da Venezuela, já enquadrado no mesmo rol de personagens latino-americanos como Che Guevara e Fidel Castro. Ontem, no evento realizado à noite no Palácio Queimado, sede do governo boliviano, a chegada de Chávez causou enorme alvoroço entre os jovens.

A Assembléia Constituinte foi proposta pelo MAS para "refundar a Bolívia", livrando o país das "amarras neoliberais", nas palavras de seus partidários. Está em jogo uma mudança importante no sistema de poder boliviano: apesar de freqüentes desmentidos de Morales e de seu vice-presidente, Álvaro Garcia Linera, o partido do governo vai apoiar a proposta de reeleição do presidente, que tem grandes chances de ser aprovada se a situação fizer a maioria.

O cenário positivo para o governo é demonstrado por outro dado da pesquisa divulgada pelo jornal Lá Razón: 56% reprovam o trabalho da oposição. O levantamento foi feito entre 1.014 cidadãos de 18 a 70 anos entre 8 e 15 de maio, ou seja, na semana seguinte à publicação do decreto de nacionalização. As cidades pesquisadas foram La Paz, El Alto, Cochabamba e Santa Cruz de La Sierra.

A pesquisa, no entanto, confirma a grande dificuldade de Morales para conquistar o chamado Oriente boliviano, cuja maior expressão é a cidade de Santa Cruz. Lá, apenas 31% dos entrevistados disseram aprovar o governo. Santa Cruz é base das petroleiras prejudicadas pela nacionalização e dos grandes agricultores que temem perder terras com a reforma agrária em estudo.