Título: PFL sugere que Alckmin centre forças no eixo SP-Rio-Minas
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/05/2006, Nacional, p. A13

Segundo relatório do partido, vitória do tucano em São Paulo compensará derrota no Nordeste

Um relatório confidencial de 16 páginas produzido pelo PFL, ao qual o Estado teve acesso, recomenda que, para vencer as eleições, o pré-candidato Geraldo Alckmin deve apostar no triângulo São Paulo-Rio-Minas, profissionalizar a campanha e agilizar a construção de alianças. Com base em números, o documento afirma que a vitória de Alckmin em São Paulo compensará derrota no Nordeste. O texto, atribuído ao secretário-geral do partido, o experiente deputado Saulo Queiroz (MS), é mais generoso com Alckmin do que tem sido seu próprio partido, o PSDB, que insiste em cobrar mudanças na campanha.

Em curiosa análise, o texto aposta que a vitória de Alckmin sobre Lula em São Paulo compensará a derrota que ele colherá no Nordeste, principal reduto do rival. E exibe números: o Nordeste tem 5,6 milhões de eleitores a mais que São Paulo, mas tem abstenção e votos nulos muito maior. Em 2002, explica, o Nordeste (20,02 milhões) e São Paulo (19,75 milhões) tiveram números equivalentes de votos válidos. O relatório considera que a vantagem de Lula no Nordeste (hoje em torno de 48%) e a de Alckmin em São Paulo (hoje em torno de 16%) se equilibrarão na campanha porque Lula perderá pontos no Nordeste, mas já bateu no teto em São Paulo, onde Alckmin ainda poderá crescer.

DUAS SENSIBILIDADES

O estudo propõe que Alckmin deve definir rapidamente suas propostas para o Nordeste, considerando que a região tem duas sensibilidades - o Nordeste "tradicional", que cobra exaustivamente programas sociais, e o Nordeste "moderno", que demanda planos de desenvolvimento. Propõe mobilizar agentes políticos dos partidos aliados que estão fora da disputa (prefeitos, vereadores, lideranças municipais) para reduzir a diferença de Lula na região a 25%.

O relatório avalia que Alckmin tem amplas possibilidades no Sudeste, por conta de seu manancial de votos em São Paulo e a excepcional condição de Aécio Neves em Minas. Para se identificar com os eleitores da região, diz o relatório, Alckmin deve destacar os pontos negativos de Lula. Segundo o raciocínio, por enquanto o eleitor não está avaliando os candidatos por mérito, mas por exclusão. O texto prevê que no Sul e no Centro-Oeste a grave crise na agricultura debilitará Lula e cobra ações específicas de Alckmin para colocar essa crise em sua agenda de campanha.

O texto distribui estocadas no PT. Afirma que é muito provável que as alianças montadas em vários Estados em torno de Lula vão fracassar porque o PT "é um partido muito complicado"; adiante, afirma que o Acre "é o único Estado em que o PT é franco favorito para governador". Numa tirada bem-humorada, o documento opina que a candidatura Heloísa Helena é uma "operação Jim Jones", já que "na prática, extinguiria o partido". Por isso, o autor especula que à última hora Heloísa se retirará da disputa.

PLEBISCITO

O relatório sustenta que, sob impacto da verticalização, a eleição tende a decidir-se no 1º turno, resumida ao enfrentamento de Alckmin e Lula. E argumenta que os efeitos da verticalização revestirão a eleição de forte caráter plebiscitário. A partir dessa previsão, o texto argumenta que a "verdadeira" vantagem de Lula não é a que as pesquisas de opinião têm apurado em cenários de primeiro turno, com vários candidatos (em torno de 20 pontos), mas a que tem medido os confrontos de segundo turno, onde se reproduz o clima de efetiva polarização. E os confrontos de segundo turno têm apontado uma diferença menor entre Lula e Alckmin - foram 12 pontos porcentuais (45% a 33%), na rodada de abril da pesquisa CNT/Sensus.

O texto reconhece que há "um clima de desânimo" em torno do desempenho de Alckmin até agora, mas acrescenta que é "uma enorme bobagem imaginar que esse quadro não vai se modificar com o correr da campanha". E argumenta: a análise dos cenários estaduais "indica uma grande vantagem de Alckmin para quando a campanha vier". Além dos efeitos da verticalização, o documento diagnostica que as forças em torno de Alckmin "têm peso específico muito maior que as (que estão em torno) de Lula", principalmente no Sudeste e no Nordeste. Por essa razão, conclui, a grande diferença que hoje separa as preferências por Lula e Alckmin será "bem reduzida".