Título: CPI mal esfria e mensaleiros já estão de volta, em plena campanha
Autor: João Domingos, Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/05/2006, Nacional, p. A8

Um dos exemplos é Paulo Rocha, que após renúncia aproveitou tempo para liberar emendas e agradar eleitorado

A turma do mensalão não se intimidou e prepara a volta à cena política. Com uma única exceção, a do deputado Roberto Brant (PFL-MG), os parlamentares que conseguiram salvar os mandatos e os direitos políticos querem ficar no Congresso. Dos quatro que renunciaram para fugir do processo de cassação, três estão em campanha. A única exceção é Carlos Rodrigues (RJ), preso quinta-feira por envolvimento com a máfia das ambulâncias e expulso do PL, que não pode se candidatar.

Os parlamentares cassados, como Pedro Corrêa (PP-PE) e Roberto Jefferson (PTB-RJ), que tiveram os direitos políticos suspensos até 2015, tentam agora emplacar parentes no Congresso. Já aqueles que o plenário livrou da forca consideram-se com a ficha limpa para pedir voto novamente.

Entre os que renunciaram, o ex-líder do PT Paulo Rocha (PA), que teve 131 mil votos em 2002, prevê chegar aos 250 mil agora. A estranha multiplicação de votos seria reflexo de seu trabalho nos bastidores. Rocha conseguiu fazer o governo liberar mais dinheiro para suas emendas ao Orçamento da União do que a média dos congressistas. No ano passado, garantiu R$ 3,2 milhões para 20 prefeituras paraenses. São recursos para a construção de ginásios de esportes e pequenas obras de infra-estrutura.

Enquanto os outros labutavam no Conselho de Ética e no plenário para salvar os pescoços, Rocha fazia campanha tranqüilamente. Ele fugiu do processo de cassação após ser acusado pela CPI dos Correios de ser o responsável pelo saque de mais de R$ 900 mil das contas do empresário Marcos Valério.

O ex-líder do PMDB José Borba (PR) segue a mesma trilha - garantiu R$ 2,5 milhões para prefeituras do Paraná. Destinou, por exemplo, R$ 400 mil para ações sociais e comunitárias, R$ 400 mil para carentes e R$ 360 mil para redes de saúde.

Valdemar Costa Neto (SP) foi o primeiro a renunciar. Licenciou-se da presidência do PL - assumida pelo ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento - para tocar sua campanha. Marcos Valério afirma que destinou para Costa Neto R$ 10,5 milhões, mas o ex-presidente do PL só reconheceu o recebimento de R$ 6,5 milhões.

Todo esse dinheiro, disse Costa Neto na CPI, foi usado para o pagamento de material de propaganda do candidato Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno da eleição. O PL indicara o vice na chapa presidencial, com José Alencar.

MUDANÇA DE RUMO

O escândalo do mensalão obrigou vários de seus protagonistas a rever os projetos políticos. Paulo Rocha, Sandro Mabel (PL-GO), João Paulo Cunha (PT-SP) e Pedro Henry (PP-MT) tinham planos ambiciosos. Os três primeiros trabalhavam para disputar governos estaduais. Henry sonhava com o Senado. Rocha, Mabel e João Paulo vão buscar a reeleição. Henry, que foi absolvido no Conselho de Ética e no plenário da Câmara, ainda não se decidiu.

Dos três mensaleiros paulistas do PT, João Paulo e Professor Luizinho têm a reeleição dada como certa. Ambos têm base política sólida e contam com a ajuda de fortes movimentos católicos, como a Pastoral Operária. José Mentor, que é um candidato quase que exclusivamente paulistano, corre riscos, avaliam outros petistas.

Romeu Queiroz (MG), um dos primeiros absolvidos pelo plenário da Câmara, costuma ser o mais bem votado dos parlamentares do PTB. João Magno (MG) foi o quinto mais bem votado dos 11 deputados federais petistas. Quer repetir o placar.