Título: Greve de auditor paralisa indústria
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/05/2006, Economia & Negócios, p. B10

Movimento que dura mais de duas semanas afeta a linha de produção das empresas em vários pontos do País

A greve dos auditores fiscais da Receita Federal, que completa hoje 17 dias, já afeta a produção de várias empresas de diversos setores que dependem de matérias-primas e insumos importados. Com os estoques praticamente zerados, algumas indústrias começam a paralisar linhas de produtos. Só na Zona Franca de Manaus, 40% da produção está comprometida pela falta de fiscalização nas principais portas de entrada do País, causando um prejuízo estimado de US$ 33 milhões por dia para as empresas que precisam de mercadorias importadas.

"A situação é dramática", diz Maurício Loureiro, presidente do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam). Caso a greve dure mais uma semana, as empresas da Zona Franca deverão começar a dar férias coletivas fora de época a seus funcionários.

Os auditores da Receita cruzaram os braços para pressionar o governo federal a negociar com o sindicato da categoria (Unafisco) planos de valorização das atividades da categoria. Entre outras exigências, pedem reajuste da remuneração e um plano de carreira. O movimento tem a adesão de mais de 70% da categoria e afeta o serviço de fiscalização nos portos e aeroportos do País.

"A vida de quem produz neste país virou um inferno. Nem bem saímos da greve da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), e já enfrentamos outra ", afirma Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.

Caso os servidores da Anvisa, que também fazem a fiscalização das importações nos portos e aeroportos do País, voltarem a fazer greve, como já se cogita, a crise poderá ser ainda maior. Eles deram uma trégua na paralisação para negociar com o governo federal um plano de carreira e o enquadramento de cerca de 470 servidores requisitados de outros órgãos federais, como o antigo Inamps.

A Thomson, líder na fabricação de equipamentos para TV por assinatura, foi obrigada a parar a produção em Manaus por quatro dias nesta semana, por falta de matérias-primas e insumos importados. "Deixamos de produzir quase 12 mil equipamentos", diz o diretor industrial, Wilson Peico.

A Intelbrás, maior fabricante de telefones e centrais telefônicas da América Latina, interrompeu ontem a fabricação de telefones sem fio e dispensou 150 dos 450 funcionários da produção, que ficam devedores do banco de horas da empresa. "Vamos deixar de produzir 4 mil telefones sem fio por dia", informa Otávio Ernesto, diretor industrial da Intelbrás. As perdas da empresa já são superiores a R$ 3 milhões. Além da linha desativada, a empresa tinha um plano de mil centrais telefônicas este mês, mas ainda não conseguiu entregar nenhuma, por falta de peças. "Se a greve durar mais 10 ou 15 dias, a produção entrará em colapso", diz o diretor industrial. A empresa depende de 90% de componentes importados da Ásia para montar seus produtos .

"Estamos sendo tratados pior que contrabandistas, que ainda conseguem trazer produtos de fora do País ilegalmente e vendê-los aqui dentro".