Título: Após dois anos em alta, dívida em títulos recua
Autor: Renata Veríssimo, Fabio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/05/2006, Economia & Negócios, p. B8

Valor registrado em abril é de R$ 1,002 tri, com queda de R$ 18,44 bi sobre março; menor apetite de investidores por papéis explica resultado

Após dois anos de trajetória crescente, a dívida pública interna em títulos caiu R$ 18,44 bilhões, totalizando R$ 1,002 trilhão em abril.

Esse estoque poderia até ter ficado abaixo desse valor se não fossem os R$ 8,28 bilhões de juros que foram incorporados ao total da dívida. A queda verificada em abril, porém, foi fruto de uma má notícia: a piora no cenário externo causada pelas incertezas sobre a escalada dos juros americanos, que deixou o mercado financeiro mais nervoso e avesso à compra de títulos do governo.

"Em abril houve um aumento muito forte da volatilidade no mercado internacional. Isso se refletiu na estratégia do Tesouro que foi mais conservador no volume e no prazo das emissões de títulos", afirmou o coordenador-geral da Dívida Pública, Ronnie Tavares.

Ele disse que o aumento do juro pago pelos títulos de dez anos do Tesouro americano, que ocorre desde março, fez com que os investidores procurassem mercados mais tradicionais, em detrimento dos emergentes, como o Brasil. "Houve um aumento na chamada aversão ao risco dos investidores", disse Tavares, lembrando que os juros nos EUA passaram de 4,85% ao ano no final de março para 5,07% ao longo de abril. O coordenador avaliou que essa situação persiste em maio de forma muito semelhante à do mês passado "e ainda não acabou".

Diante desse quadro, o Tesouro foi mais cauteloso e diminuiu a quantidade de títulos colocada no mercado em abril. A previsão era vender até R$ 35 bilhões em papéis, mas foram emitidos efetivamente R$ 20,3 bilhões. Com isso, houve um resgate líquido (vencimentos maiores que as emissões) de R$ 26,9 bilhões, que se refletiu diretamente no tamanho da dívida interna.

Tavares disse que esse resgate líquido se concentrou nos títulos com vencimentos em prazos mais longos, os preferidos dos investidores estrangeiros. Ele não quis prever se esse fenômeno vai se repetir em maio com a continuidade da volatilidade dos mercados.

O efeito da turbulência ficou claro também no indicador de prazo médio dos títulos emitidos, que caiu de 55,16 meses, em março, para 31,89 meses em abril. Apesar da queda, o prazo médio da dívida como um todo não diminuiu, porque as novas emissões ainda ficaram acima do prazo médio do estoque já emitido de papéis. Com isso, o prazo médio da dívida subiu de 29,31 para 29,64 meses.

Nos demais indicadores, a dívida interna teve uma discreta piora. A parcela de títulos com vencimento nos próximos 12 meses subiu de 40,1% em março para 40,3% em abril. A participação dos títulos prefixados no total da dívida, considerados de melhor qualidade porque a remuneração é definida no momento da venda dos papéis, caiu de 28,75% em março para 27,61%.

Segundo Tavares, isso ocorreu não por causa da turbulência externa, mas porque o mês concentra vencimentos desses títulos, ocorrendo uma queda natural em sua participação.

A parcela dos títulos com rentabilidade atrelada à taxa Selic (os pós-fixados) cresceu de 49,55% para 49,98%.

Houve uma ligeira melhora na parcela vinculada aos índices de preços, que passou de 21,23% para 21,94% na mesma base de comparação.