Título: YPFB insinua que Petrobrás maquia contas de unidade
Autor: Paulo Moreira Leite
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/05/2006, Economia & Negócios, p. B4

Presidente da estatal boliviana disse não acreditar em prejuízo da Colpa

O presidente da estatal boliviana Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), Jorge Alvarado, insinuou ontem que a Petrobrás está maquiando a contabilidade da Colpa, unidade que armazena e comprime o gás boliviano antes de entrar no gasoduto e seguir para o Brasil.

"Os representantes da Petrobrás disseram que a empresa dá prejuízo, mas não acreditamos nisso", afirmou Alvarado, no fim da tarde de ontem, depois de visitar o Palácio Quemado, sede do governo de Evo Morales, que ontem voltou ao país.

Pelas contas da Petrobrás, a Colpa tem um rombo anual de U$ 4 milhões. "Nossos cálculos apontam para outra direção", diz Alvarado. "As razões apresentadas pelos brasileiros não nos convencem."

O debate sobre os números é compreensível. A Colpa vem sendo gerida pela Petrobrás em razão do acordo de exploração do gás. Após o decreto de nacionalização, o governo boliviano quer passar a operar a unidade.

O ataque foi feito após encontro com a direção da Petrobrás, o primeiro desde a reunião de quarta-feira passada, na qual foi definida a pauta de negociações dos próximos 180 dias.

O presidente da YPFB disse que o acordo de exportação de gás para a Argentina está próximo de ser fechado. Mas as autoridades de Buenos Aires têm passado os últimos dias faltando às reuniões. Alvarado disse que até o acordo com os argentinos sobre o preço do gás está próximo. Mas, quando perguntado se o valor seria de US$ 5 por 1.000 pés cúbicos, desconversou. "Não quero criar falsas expectativas," alegou.

DECRETOS O ministro de Desenvolvimento Sustentável, Carlos Villegas, anunciou que está em elaboração a regulamentação dos decretos de nacionalização dos hidrocarbonetos. A regulamentação, afirmou, "permitirá a plena vigência da nacionalização do gás".

Um dos decretos autoriza a Superintendência de Hidrocarbonetos a fazer auditorias nas empresas petroleiras. Outro cria um fundo de compensação para as ações das empresas nas quais o Estado agora é acionista majoritário. "Com isso teremos todo o respaldo jurídico para agilizar e executar todas as disposições do decreto de nacionalização", disse.

O decreto prevê que os recursos da produção de hidrocarbonetos serão 82% do Estado e 18% das empresas. Para o ministro de Hidrocarbonetos, Andrés Soliz Rada, "as auditorias abrirão as caixas pretas das multinacionais".