Título: Homem e chimpanzés, mais perto
Autor: Cristina Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/05/2006, Vida&, p. A14

Separação definitiva entre os dois ocorreu mais recentemente do que se pensava, no tempo e na constituição

Uma equipe pequena, mas formada por cinco cabeças de duas das universidades americanas mais conceituadas, Harvard e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), propõe que o homem e o chimpanzé estão mais próximos do que se imaginava - temporal e fisicamente falando.

A equipe defende a teoria de que a separação evolucionária definitiva entre os dois ocorreu cerca de 1 milhão de anos depois da época normalmente aceita. "Definitiva" porque, antes de divergirem, hominídeos e chimpanzés ainda teriam trocado genes ou hibridizado - jargão usado para o ato de duas espécies cruzarem entre si.

Esse troca-troca teria acontecido depois de os dois seguirem por caminhos diferentes da evolução por cerca de 1 milhão de anos. A proposta foi publicada ontem na versão eletrônica da revista Nature (www.nature.com).

ANÁLISE MOLECULAR A história estaria contada nos genomas do chimpanzé e do homem, comparadas pela equipe. "Tropeçamos em alguns padrões interessantes e tivemos de desenvolver análises sofisticadas e reunir mais informações para entendê-los melhor", disse um dos autores do estudo, o geneticista David Reich, do Instituto Broad, instituição ligada ao MIT e Harvard.

Os padrões são compostos por incompatibilidades de idade: algumas regiões do genoma humano são até 4 milhões de anos mais antigas do que outras. Por outro lado, as regiões mais novas são mais recentes do que se achava, indicando uma separação entre homens e chimpanzés mais próxima.

Só esses dados já seriam suficientes para mostrar que a separação entre os primos foi mais confusa e demorada do que se imaginava. Eles sugerem que a divergência aconteceu não antes de 7 milhões de anos - muito provavelmente, em uma época mais próxima, entre 6,5 e 5,4 milhões de anos.

Mas a maior surpresa veio da observação do cromossomo sexual X, que se mostrou mais novo do que os demais e semelhante nos dois genomas.

A característica pode ser explicada pela hibridização, que deixa marcas especialmente nos cromossomos sexuais. "Os genes de incompatibilidade híbrida, que constituem uma barreira à especiação, estão concentrados no cromossomo X", explica Reich.

Para alguns colegas, há lacunas a serem preenchidas. "É uma análise elegante e engenhosa", disse o bioantropólogo Daniel Lieberman, também de Harvard. "Mas acho difícil imaginar que um hominídeo bípede e um chimpanzé poderiam se ver como parceiros."

Lieberman ajudou a descrever o fóssil Toumai como o mais antigo bípede já encontrado. Ele foi datado com 6,5 milhões de anos, mas a equipe de Reich também questiona sua idade.

"É possível que o Toumai seja mais recente. Mas, se a datação estiver correta, ele deve preceder a separação entre homens e chimpanzés", diz Nick Patterson, também do Instituto Broad e co-autor do estudo.

Para a geneticista Rebecca Cann, da Universidade do Havaí, essa é uma "conclusão provocativa baseada em poucos dados comparativos".

"Obviamente o cromossomo X passou por um gargalo mais tarde do que o restante do genoma. Isso pode ter acontecido se as fêmeas ou os machos carregassem ali uma vantagem particular", afirma Rebecca.