Título: PF investiga ação de sanguessugas em Minas
Autor: Sérgio Gobetti e Sônia Filgueiras
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/05/2006, Nacional, p. A4

As investigações da Polícia Federal no âmbito da Operação Sanguessuga, que apura o desvio de verbas federais em convênios para compra de ambulâncias, revelam que a quadrilha que operava no Congresso e no Ministério da Saúde podia estar planejando ações mais ousadas na esfera federal por meio de contatos com a cúpula do PMDB de Minas, presidido pelo ex-ministro Saraiva Felipe (Saúde). Grampo telefônico feito pela PF em 15 de dezembro de 2005 mostra o empresário Darci Vedoin, dono da Planam e cabeça do esquema, contando para Maria da Penha Lino, assessora do ministro, que havia sido apresentado pelo secretário do PMDB mineiro a Sérgio Amaral, ex-superintendente de Desenvolvimento do Norte de Minas e braço direito de Felipe. Vedoin diz que Amaral é de Minas e ¿faz as coisas do homem¿.

Penha, que havia trabalhado na própria Planam e foi chamada para o gabinete de Saraiva Felipe em agosto de 2005, diz que essa pessoa ¿pode mexer com outras coisas¿ de interesse do grupo. Até agora o Ministério da Saúde não apresentou explicações sobre os motivos que levaram Saraiva Felipe - substituído recentemente por seu secretário-executivo, Agenor Alves da Silva - a convidar Penha para um cargo-chave, responsável pelo acompanhamento das emendas parlamentares e pela análise técnica dos convênios.

O advogado da ex-funcionária, que está presa, disse que ela conheceu o ministro na época em que trabalhou para o Conselho dos Secretários Municipais de Saúde. Em seus depoimentos, Penha tem dito que o ministro não sabia de suas articulações com a família Vedoin, mas, nos grampos, é dito por integrantes da quadrilha que Darci teria sido um dos responsáveis por sua indicação para o posto. Desde 2001, o empresário montou uma poderosa rede de contatos com parlamentares e assessores do Congresso para direcionar emendas do orçamento para a ¿aquisição de unidades móveis¿ nas áreas de Educação, Ciência e Tecnologia e, principalmente, Saúde.

INADIMPLENTES

Os grampos mostram que os Vedoin tinham informações sobre as conversas que o senador Ney Suassuna (PB), líder do PMDB, tinha com Saraiva Felipe sobre a liberação de emendas de seu interesse. No dia 21 de dezembro de 2005, por exemplo, o filho de Darci, Luiz Antônio Vedoin, diz a Penha que o senador peemedebista havia estado naquele dia com o ministro e que iria empenhar R$ 3 milhões para um instituto da Paraíba (Ippes) e R$ 1,2 milhão para uma fundação.

Em outra conversa, no dia 28, Luiz diz que Suassuna queria repassar o dinheiro para o instituto porque as prefeituras de seu contato estavam inadimplentes e, dessa forma, não poderiam assinar convênios com o Ministério da Saúde. Penha alerta que colocar todo dinheiro para uma entidade ¿chama a atenção de qualquer um que olha para o documento¿ e daí ¿começam a questionar¿.

Os dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), levantados pela ONG Contas Abertas, revelam que o conselho dado pela ex-assessora foi seguido, pois as emendas da bancada e dos parlamentares da Paraíba para as ambulâncias, num total de R$ 8,3 milhões, acabaram sendo fracionadas em 70 pequenas notas de empenho, favorecendo cerca de 60 prefeituras e o Instituto São José, de João Pessoa (PB).

Nos diálogos, Penha indica que mantinha contato direto com Suassuna, como quando diz que ¿o senador ligou falando que somente tinha mandado o (pedido) das unidades móveis¿ e que, posteriormente, ligou para explicar que ¿tinha assinado sem ver¿ alguns pedidos de liberação de outras emendas. Suassuna afirma que não conhece os institutos mencionados nos diálogos, nem a funcionária Penha e a família Vedoin. Segundo ele, sua assinatura no pedido de liberação dos recursos das emendas teria sido falsificada e sempre tratou da liberação das suas emendas diretamente com o ministro.

O Estado tentou localizar por telefone Saraiva Felipe, mas ele não atendeu as ligações. Ele foi ministro da Saúde entre julho de 2005 e março de 2006, quando deixou a pasta para se candidatar nas eleições deste ano.