Título: Sinônimo de estatística, IBGE chega aos 70 anos
Autor: Robson Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/05/2006, Nacional, p. A7

Quem entra no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) encontra um relógio com a estimativa da população brasileira em tempo real. Na sexta feira pela manhã, éramos 186.333.071, mas o número cresce a uma taxa média de 5 novos habitantes por minuto, 7.200 por dia, 216 mil por mês ou 2,5 milhões de brasileiros a mais por ano, já descontados os registros de óbitos no período. Nesse ritmo, o Brasil ultrapassará a barreira de 200 milhões de habitantes no fim de 2010.

Contar pessoas e mostrar como elas vivem é apenas uma entre as dezenas de atividades do IBGE, que hoje completa 70 anos de existência com a responsabilidade de produzir estatísticas oficiais que, de uma forma ou de outra, interferem na vida dos brasileiros e do próprio País.

Ao contrário do que pode parecer, estimar a população de um país minuto a minuto está longe de ser classificado como um exercício de futurologia ou ¿um chute¿. Por trás do relógio demográfico, existe uma metodologia universal, testada e aprovada ao longo de várias décadas em mais de 200 países e que na linguagem dos técnicos aparece resumida como uma simples equação (POP t = A * t B), atualizada uma vez por ano (sempre à 0h00 do dia 1º de julho), quando são incorporadas algumas variáveis que podem interferir no número final, como taxas de fertilidade, mortalidade e migração, entre outras.

Parece exagero, mas a fórmula permite a qualquer pai saber, com razoável precisão, qual a ¿posição¿ do filho no minuto exato do nascimento, não só em relação à população brasileira, mas também no mundo. Quem nasceu às 14h56 de sexta-feira, por exemplo, seria o 186.334.529º habitante do País e o 6.518.298.144º no mundo.

PRODUÇÃO DE LEITE

Os números do IBGE são usados para planejar, implantar e acompanhar políticas específicas, auxiliar pesquisadores a apontar caminhos e perigos, aferir a realidade brasileira diante do cenário mundial e até mesmo servir de munição a adversários políticos.

Praticamente tudo o que sabemos hoje sobre o Brasil e os brasileiros saiu das planilhas e computadores do IBGE. Só em 2006, o órgão divulgará 141 pesquisas, além de 26 estudos estruturais também integrados ao calendário anual. São informações que, além de números e estatísticas, desvendam uma infinidade de siglas, muitas delas desconhecidas do cidadão comum, como PIMF, PME, SIVAPI, entre outras, mas que são atentamente acompanhadas por setores específicos do mercado financeiro e empresarial.

Quer saber a quantidade de leite ou de ovos de galinha produzidos todos os meses no Brasil? O número de casamentos, divórcios e a quantidade de pessoas acima dos 65 anos que moram sozinhas? O que os brasileiros comem, quanto pesam? A quantidade de domicílios atendidos por coletas de lixo em cada um dos 5.645 municípios brasileiros? Para cada uma dessas questões as respostas virão inevitavelmente do IBGE, órgão criado em 1934, a partir da fusão do Instituto Nacional de Estatística com o Instituto Nacional de Geografia. Hoje, são poucos os temas que ficam de fora da mira dos pesquisadores e técnicos do órgão que virou sinônimo de estatísticas.

Além das estatísticas demográficas, o IBGE é responsável pelo Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor (SNIPC), cujo objetivo é acompanhar a variação de preços de um conjunto de produtos e serviços consumidos pelas famílias nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Belém, Fortaleza, Salvador e Curitiba, além do Distrito Federal e do município de Goiânia.

Na área geográfica, os estudos e as informações mantidas pelo IBGE servem como referência para a construção de estradas, pontes ou barragens, além de ajudarem no mapeamento de recursos naturais, por meio de pesquisas sobre o uso do solo, clima e relevo.

ESTRUTURA

A primeira contagem da população do Brasil foi realizada em 1872, ainda durante o Império, mas só a partir de 1890, já sob a República, o Censo Demográfico se tornou decenal. O primeiro sob a responsabilidade do IBGE foi realizado em 1940. O mais recente, de 2000, mobilizou mais de 200 mil pessoas para visitar cada um dos 54.265.618 de domicílios localizados nos 5.507 municípios existentes à época. Os preparativos para uma nova contagem, em 2007, já começaram.

A máquina administrativa e os recursos financeiros responsáveis por todas essas pesquisas e estudos são generosos. O orçamento do IBGE para este ano é da ordem de R$ 800 milhões, dos quais cerca de R$ 700 milhões utilizados para o pagamento de pessoal e despesas com transporte, alimentação e treinamento (são 7 mil técnicos e pesquisadores contratados e outros 2 mil temporários).

Além da sede no Rio, onde está localizada a Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence), o IBGE mantém subsedes em todos os Estados e no Distrito Federal, além de 560 agências de coleta de dados.

Por trás das estatísticas estão, por exemplo, as histórias de Gabriel, o 186.335.390º brasileiro, que nasceu sexta-feira, e Maria Auxiliadora Paulino, de 52 anos, que teve um filho assassinado.

Gabriel nasceu às 17h54, no Rio. No mesmo horário, o relógio demográfico do IBGE estimava em 6.518.330.463 a população mundial.

O filho de Maria, Almir, tinha 22 anos quando foi morto em uma briga com outros traficantes na zona norte do Rio. A morte de Almir reforça uma triste realidade brasileira. Segundo o IBGE, jovens do sexo masculino, entre 20 anos e 24 anos, lideram as estatísticas de óbitos por causa violenta. ¿Eu tinha que trabalhar para sustentar a família e não podia ficar andando atrás dele¿, lamenta Maria.