Título: Lula culpa tucanos por ataques do PCC no Estado de São Paulo
Autor: Leonencio Nossa, Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/04/2006, Nacional, p. A4

Após descartar uso político da crise na segurança, presidente atribui atos à falta de investimento em educação Para ele, houve desrespeito e ofensa ao povo paulista

Dois dias depois de reprovar o uso da onda de violência em São Paulo como munição eleitoral, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu uma estocada nos tucanos, ao dizer ontem que as ações atribuídas à facção criminosa PCC são resultado da falta de investimentos dos governos anteriores em educação. Em discurso de improviso numa praça de Ceres, a 183 quilômetros de Goiânia, ele defendeu a construção de universidades e escolas técnicas, e criticou o governo Fernando Henrique por não investir na profissionalização de jovens.

"Não se cuidou corretamente de nossas crianças e adolescentes", criticou. "Se tivessem investido em educação nas décadas de 70, 80 e 90, muitos desses jovens presos estariam trabalhando, dando aulas e estudando."

Mais tarde, em Santo Antônio do Descoberto, o presidente foi mais longe em sua avaliação. "Pelas reportagens que vi, parece que havia uma mancomunação entre polícia e bandido", disse, em entrevista. "O que nós ficamos preocupados é porque não pode, definitivamente, o crime organizado ter mais força que a sociedade, que a polícia, que o Estado e que a União. Não pode. Então, eu penso que nós precisamos prestar mais contas sobre o que acontece na segurança." Lula fez questão de ressaltar que "segurança pública é da responsabilidade do governo do Estado" e "o que o governo federal pode dar é apoio, seja com Exército, com a Força Pública Especial, com a Polícia Federal".

Na segunda-feira, o presidente dissera em entrevista que não podia "achar" que havia um "mesquinho" que quisesse tratar a violência na capital paulista como questão eleitoral. Ontem, no interior de Goiás, incluiu o problema da segurança pública no discurso de pré-campanha. A iniciativa ganhou corpo com declarações ainda mais explícitas do ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, que acusou o "governo Alckmin" em São Paulo de ter negociado com criminosos em vez de aceitar ajuda federal. Isso enfureceu a oposição, que abriu guerra com o Planalto e paralisou os trabalhos no Senado.

ESCOLAS

Em Ceres, Lula ressaltou que seu governo constrói 32 escolas técnicas que "estavam paralisadas desde 1998", justamente no período dos tucanos. "Quero provar que somos mais capazes do que aqueles que nos antecederam", disse. "Em 1998, o governo da época decidiu que não era para investir em escolas técnicas e repassou a responsabilidade para Estados, municípios e ONGs", criticou. "Vai ser muito mais barato, produtivo e lucrativo para o Brasil gastar dinheiro em educação do que em cadeias depois, do que cuidar de gente que já não tem mais recuperação."

No discurso de 28 minutos, Lula afirmou que seu governo constrói quatro novas universidades e garantiu o acesso de 204 mil jovens da periferia a faculdades privadas, por meio de um projeto de isenção fiscal. O presidente foi a Ceres para inaugurar novas dependências do Hospital São Pio X, da Arquidiocese de Goiás. O governo repassou R$ 63,7 mil para a reforma do hospital. De 2003 a março deste ano, a entidade recebeu de R$ 2 milhões para atendimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Sob sol das 11 horas, cerca de 500 pessoas ouviram o discurso do presidente. Ele falou do programa de saúde bucal, prometeu pavimentar estradas em Goiás e avaliar aumento de salário para aposentados e funcionários do Incra e do Ibama. Disse também que o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) coloca o Brasil em padrão de igualdade com qualquer outro país do mundo.