Título: Diretor de presídios diz que autorizou filmagem de Marcola
Autor: Chico Siqueira
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/05/2006, Metrópole, p. C3

Entrevista José Reinaldo da Silva: coordenador dos Presídios do Oeste Paulista

O coordenador dos Presídios do Oeste Paulista, José Reinaldo da Silva, disse ontem que autorizou agentes penitenciários a filmarem a revista feita na segunda-feira passada em celas do Centro de Readaptação Penitenciária (CRP), em Presidente Bernardes, onde 152 detentos estão submetidos ao Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). Nas imagens, divulgadas pela imprensa no fim de semana, presos ameaçam e intimidam carcereiros. Entre eles, aparece Marcos Camacho, o Marcola, líder do Primeiro Comando da Capital (PCC). Nesta entrevista ao Estado, Silva disse que as filmagens foram feitas para que o Estado pudesse se defender das denúncias de que agentes estavam agredindo detentos no CRP:

O senhor tinha conhecimento das filmagens?

Não só tinha, como determinei que fossem feitas.Tínhamos relatos de denúncias feitas na Corregedoria e na Pastoral Carcerária de que presos do CRP estavam sendo espancados por agentes. Sabíamos que era mentira e seria difícil provar por meio de provas testemunhais. Então, usamos as filmagens como meio de defesa.

Essas filmagens vazaram para a imprensa...

Nunca houve uma tentativa de se evitar o vazamento. Pelo contrário, é importante que a sociedade saiba o que realmente se passa hoje nos presídios.

O que acontece então?

O detento encara a disciplina como ato de pressão. O preso sempre reage e nós temos de ficar quietos esperando o preso reagir.

Qual o motivo da revista?

Houve a denúncia de que o Cabrini (Roberto Cabrini, jornalista da TV Bandeirantes) tinha entrevistado o Marcola por telefone e então tivemos de entrar para saber se realmente havia celular no RDD, o que ficou comprovado que não havia.

Mas há relatos de detentos espancados na Penitenciária de Valparaíso, por exemplo, depois de um motim no dia 2.

Há casos em que a Tropa de Choque é obrigada a usar a força, porque os presos reagem. Foi o que aconteceu em Valparaíso. Houve presos feridos pelos colegas e também pelo Choque, mas nenhum com gravidade. E houve agentes e PMs feridos também. Não há como evitar conflitos. Foram transferidos líderes da rebelião, entre eles alguns feridos, mas nenhum em situação cirúrgica. Se o Choque tivesse intenção de matar alguém ou de machucar, os ferimentos seriam graves.

Mas há outras denúncias.

Há denúncias de 300 presos feridos durante a megarrebelião. Não sabemos se este número é correto. A ação da Tropa de Choque foi legítima para conter a revolta. Não houve um preso que morreu por culpa da PM ou dos agentes. Nove presos foram mortos por colegas. Em Presidente Prudente, a perícia constatou que o preso foi morto por colegas com uma barra de ferro enfiada no peito para simular um tiro de calibre 12.

Como ficam agora as condições dos detentos do RDD?

Há anos não havia ato de indisciplina lá. Agora, eles vão perder algumas concessões.

Quais, por exemplo?

A visita do abraço. Como não é permitido contato com visitantes, alguns presos tinham o privilégio de sair para abraçar o familiar. Vão perder. E também deixarão de receber alimentos caseiros e livros.