Título: Prejuízo da Varig chega a R$ 1,4 bi
Autor: Alberto Komatsu, Isabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/05/2006, Economia & Negócios, p. B10

Balanço de 2005, divulgado ontem, mostra que perdas aumentaram 1.600% em comparação ao ano anterior

A Varig teve um prejuízo de R$ 1,4 bilhão em 2005, um crescimento de 1.600% em relação ao ano anterior. O resultado foi divulgado ontem pela empresa, com 45 dias de atraso.

A receita líquida da companhia em 2005 foi de R$ 6,6 bilhões, uma queda de 11,12% em relação ao ano anterior. Com o acúmulo de perdas, o patrimônio líquido da empresa ficou negativo em R$ 7,9 bilhões, contra R$ 6,4 bilhões em 2005.

O diretor de Relações com Investidores da Varig, Ricardo Bullara, atribuiu os resultados ruins à redução da frota de aviões, que provocou uma redução na receita, e à valorização do real em relação ao dólar.

"A valorização do real não é boa para a Varig. A queda do dólar pode baixar nossos custos, mas o problema é que 60% da nossa receita é em moeda forte", diz o executivo.

O clima é de preocupação entre os dirigentes da Varig. Embora os resultados financeiros fossem esperados, há uma incerteza se haverá interessados em pegar o empréstimo oferecido pelo BNDES para participar do leilão de venda da empresa.

O BNDES se comprometeu a liberar US$ 166 milhões de um "empréstimo-ponte" para manter a Varig funcionando até o leilão. Até ontem, nenhum investidor havia entregue ao BNDES propostas para o financiamento. O prazo para obter financiamento vence segunda-feira às 18 horas.

Além do BNDES, o governo anunciou ontem outra ajuda para tentar viabilizar o leilão. O Banco do Brasil (BB) abriu a possibilidade de conceder um empréstimo a um futuro comprador da Varig. A operação, que ainda não tem qualquer detalhe definido, seria feita para dar fôlego de caixa à companhia até que o leilão seja realizado.

A hipótese foi levantada ontem pelo vice-presidente de Crédito do BB, Adésio Lima, durante reunião com o ministro da Defesa, Waldir Pires, que contou com a participação também do juiz da 8ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, Luiz Roberto Ayoub, responsável pela condução da recuperação da Varig.

A assessoria do Ministério se apressou em divulgar uma nota anunciando que seria um empréstimo-ponte ao investidor interessado na Varig e sem "a exigência de carta-fiança". O BB, no entanto, esclareceu que é muito prematuro fixar condições de um financiamento. Segundo a instituição, uma operação desse tipo só poderá ser realizada se for feita com um investidor que tenha "bom conceito de crédito" com o BB, ou seja, que tenha limite de crédito aprovado no banco, tenha ativos, porte e garantias suficientes para honrar o compromisso.

O banco enfatizou ao ministério da Defesa, por meio do vice-presidente Adésio Lima, que o Banco do Brasil não tem condições de fazer a operação diretamente com a Varig, por impedimento de "natureza normativa", em virtude da situação de inadimplência da empresa.