Título: Bolivianos temem retaliação do governo Lula e discriminação
Autor: Denise Chrispim Marin, João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/05/2006, Economia & Negócios, p. B4,5

`Foram anos de luta pela integração e parte disso acabou de ir por água abaixo¿, disse um imigrante

Com os rumores de que cerca de 6 mil brasileiros serão expulsos da fronteira da Bolívia com Acre e Rondônia, os bolivianos que vivem em São Paulo começam a se preocupar com uma possível retaliação do governo Lula. O médico Jorge Villegas, presidente da Federação de Residentes Bolivianos no Brasil, teme que os esforços para integrar os imigrantes em São Paulo se percam com o agravamento da crise. "Foram anos de luta pela integração e parte disso já foi por água abaixo", disse.

Em conversa por telefone com o ministro da Corte Suprema de Justiça da Bolívia, Hector Sandoval, Villegas perguntou se Evo tinha noção dos prejuízos que estava causando à comunidade boliviana no Brasil. "Acho que ninguém pensou nisso", respondeu o ministro.

Uma das grandes preocupações é em relação ao acordo bilateral Brasil-Bolívia que estabelece a legalização dos imigrantes que entraram no país vizinho antes de 15 de agosto de 2005. O prazo final para regularização é setembro deste ano. Antes do acordo começar a valer, 70 mil bolivianos residiam irregularmente no Brasil e cerca de 30 mil estavam legais.

O promotor de eventos Juan Flores, que se diz presidente do partido de Evo no Brasil, viaja na próxima semana para a Bolívia para tentar uma audiência com o presidente e pedir a ele que mantenha os brasileiros no país. "Os imigrantes bolivianos querem uma atitude, estão com medo de serem discriminados ou expulsos do Brasil", comenta.

O parceiro de Flores, Jorge Merúvia, que se diz secretário do MAS no Brasil, afirma ter presenciado, na última semana, três casos de discriminação de brasileiros para com imigrantes bolivianos. Segundo ele, imobiliárias de São Paulo deixaram de alugar imóveis para famílias de imigrantes. "Tenho certeza que isso tem a ver com a crise."

Flores e Merúvia são defensores ferrenhos de Evo, a quem chamam de "meu presidente". Concordam com a nacionalização e com a punição de imigrantes ilegais, mas querem que Evo dê outra chance aos brasileiros.