Título: Evo pede desculpas também à Espanha
Autor: Denise Chrispim Marin, João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/05/2006, Economia & Negócios, p. B4,5

Em carta a chanceler, líder boliviano volta a culpar a imprensa

Não foi apenas em relação ao Brasil que Evo Morales, presidente da Bolívia, baixou o tom de suas críticas e acusações. Horas depois de ter atacado os governos e as empresas do Brasil e da Espanha, na manhã de quinta-feira, Evo enviou uma carta ao chanceler espanhol, Miguel Ángel Moratinos, na qual negou ter acusado Madri de descumprir os seus compromissos com a Bolívia. Em um tom cordial e diplomático, o ex-líder cocalero culpou a imprensa.

No fim da tarde de ontem, diante dos mesmos jornalistas, afirmou que a espanhola-argentina Repsol-YPF continuará a atuar na Bolívia e derreteu-se ao descrever a solidariedade da Espanha. "Conversamos com o primeiro-ministro da Espanha, a quem respeito e admiro, sobre a solidariedade com os povos indígenas. O diálogo estará sempre aberto", afirmou Evo Morales, ao informar que José Luís Rodríguez Zapatero enviará à Bolívia uma missão para tratar de ajuda na área social. "A Repsol continuará a ser sócia, mas não dona dos nossos recursos naturais", esclareceu em seguida.

Na carta, as desculpas à Espanha, um dos maiores investidores na Bolívia, ficaram mais claras. "Queremos lhe expressar que nunca acusamos o governo da Espanha de não cumprir os compromissos com a Bolívia, como assinalaram algumas matérias da imprensa, e o que eu manifestei esteve no marco da esperança de que os oferecimentos do vosso governo possam ser uma realidade em breve."

Nos sete parágrafos da carta, Evo Morales não menciona o Brasil nem a Petrobrás. Mas informa ao chanceler espanhol que seu governo concorda "totalmente" com uma negociação bilateral entre as "empresas estrangeiras e o Estado boliviano". A carta também destaca que o governo de La Paz está empenhado em estabelecer novos contratos "de interesse mútuo e no marco do respeito à Constituição" boliviana, ao final do período de 180 dias.

As declarações de ontem de Evo contradisseram completamente as de quinta-feira. Naquela ocasião, o presidente boliviano incluíra a Espanha e o Brasil na lista de países que não dão "ajuda incondicional" ao seu país e cobrara promessas de Madri de perdão da dívida e de dobrar o auxílio à Bolívia.

Ele chegou mesmo a lembrar que, anos atrás, ao desembarcar no Aeroporto de Barajas, quase foi impedido de ingressar na Espanha por uma autoridade que lhe perguntou se teria a quantia mínima de US$ 500.

Convidado de uma prefeitura e sem o dinheiro no bolso, Evo rebateu o oficial com o velho bordão dos 500 anos de exploração da Bolívia pela Espanha e outros países e teve a entrada permitida.