Título: Amorim admitiu chamar embaixador em La Paz
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Fonte: O Estado de São Paulo, 13/05/2006, Economia & Negócios, p. B3

Ministro fez a declaração antes de saber do recuo de Evo Morales, mas frisou que essa possibilidade só seria avaliada em último caso

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, admitiu ontem que o governo brasileiro poderia chamar de volta o embaixador em La Paz no caso de um agravamento da crise com a Bolívia. Falando antes da entrevista em que o presidente boliviano, Evo Morales, recuou das acusações que fez na quinta-feira ao Brasil e à Petrobrás, Amorim observou que essa opção ainda não estava sobre a mesa.

Embora enfatizando a opção do Brasil pelo diálogo, o ministro insistiu que o governo brasileiro reage com "firmeza" e "energia" às acusações do presidente boliviano.

A retirada de um embaixador indica uma séria advertência e é o primeiro passo para o rompimento de relações. Essa foi a segunda vez que o governo brasileiro admitiu uma atitude mais dura contra o país vizinho. Na última sexta-feira, Amorim havia declarado, em entrevista no Itamaraty, que, caso o governo boliviano decida aplicar um preço economicamente inviável para o gás exportado para o Brasil, o País procuraria alternativas.

Ontem, o ministro enfatizou que o governo não ficará inerte ante as críticas de Evo. "Nós sabemos as medidas diplomáticas que teremos de tomar. Mas não vou ficar sendo pautado pela imprensa. Tudo é cogitável, vamos ver", reagiu, irritado.

Depois, em tom mais ameno, lembrou que o governo brasileiro prefere o diálogo. "Reagimos de maneira forte, acompanhamos as declarações, que estão em contraste com o que foi falado pelos presidentes e pelos ministros das partes correspondentes", declarou Amorim.

"Não vamos tirar o embaixador simplesmente pelo que está sendo discutido. Evidentemente, se verificarmos que não há diálogo possível, vamos avaliar as opções diplomáticas com equilíbrio e serenidade", disse.

SEM PORRETE Perguntado se chegara a hora de o Brasil "exibir o porrete" para a Bolívia, como acentuou o Estado em seu editorial ontem, referindo-se à expressão que ele usou em depoimento no Senado, o ministro respondeu: "O que disse no Congresso continua válido. Aliás, eu não usei essa expressão (usar o porrete)". "Eu disse", continuou Amorim, " que o Brasil prefere a política da boa vizinhança. Agora, preferir essa política não exclui defender com energia os nossos interesses".

O chanceler brasileiro respondeu, ainda, a afirmações de autoridades bolivianas segundos as quais, por não ser 100% estatal, a Petrobrás não poderia participar do projeto do gasoduto do sul, planejado para levar gás da Venezuela à Argentina, passando pelo território brasileiro. "Se a Petrobrás não participar, não haverá gasoduto do sul. É muito simples. Ou então ele vai ter de dar uma volta tão grande que vai ser gasoduto do oeste", ironizou Amorim.

Na entrevista, Amorim rebateu ainda as acusações de Evo de que os contratos da Petrobrás na Bolívia não foram ratificados pelo congresso boliviano e seriam, portanto, ilegais. "Não é responsabilidade da Petrobrás mandar os contratos para o Congresso boliviano. Não sei se isso é claro, se é ambíguo, mas isso é responsabilidade dos governantes. Se fizeram algo errado, que respondam por crime de responsabilidade", afirmou.